À Lareira com... Margarida Fonseca Santos, autora da colecção infantil "7 Irmãos".
Fale-nos um pouco sobre si.
Comecei a minha vida profissional
ligada à Música, pois fui professora de Formação Musical e Pedagogia durante
muitos anos. A escrita só surgiu mais tarde, aos 33, e acabou por passar de percurso
paralelo para a principal actividade. Actualmente, para além de escrever, dou
aulas de escrita em várias escolas e trabalho muito para teatro. Também comecei
com a brincadeira das histórias em 77 palavras, que está cada vez com mais
participantes, e escrevo contos para o Suplemento de Educação do Jornal de
Letras.
Tem vários livros publicados, na sua grande maioria para crianças e
jovens. Porquê dedicar-se à Literatura juvenil?
Acho que seria incapaz de deixar
de escrever para crianças, jovens ou adultos. Não se publica com a mesma
cadência nestes três registos, mas estou sempre indo de um para o outro.
Trabalho com crianças e jovens e, por isso, faz-me muito sentido escrever para
eles. No entanto, a escrita de adultos permite-me uma liberdade (tanto de temas
como recursos narrativos) que me encanta, e vou-me mantendo sempre também nesse
registo. O porquê? Talvez porque gosto de contar histórias e provocar reacções
e pensamentos.
Escreve com regularidade para teatro. Qual a peça que gostou mais de escrever?
Já foi alguma encenada?
Imensas! As para crianças e
jovens representam o grupo maior, com as peças sobre matemática à cabeça. Não
há ano nenhum que não tenha uma peça em cena. As de adultos são mais espaçadas no tempo.
As duas que mais me encantaram? “O Navio dos Rebeldes” (adultos), “Falha de
Cálculo” (crianças) e “Matemática para quê?!” (jovens, actualmente em cena).

Que vantagens e desvantagens existem em escrever com outra pessoa?
A grande vantagem é a
aprendizagem. Tenho tido sorte com as parcerias, sempre escrevi com pessoas que
respeitam, estimulam, ajudam, e por aí adiante. Aprendem-se formas diferentes
de trabalhar e pensar a escrita, é uma partilha interessante e muito divertida.
Desvantagens? Bom, a liberdade é
menor, pois estamos a contribuir para um produto conjunto e, de certa forma, a
aproximar-nos de um estilo misto (composto por duas escritas diferentes). Não é
apenas a nossa escrita, é a da parceria, assim como os temas são os acordados e
não apenas os que nos surgem. No fundo, nem se pode dizer que seja uma
desvantagem, é uma forma diferente de escrever.
Começou a escrever em 1993 e neste momento dedica-se a tempo inteiro à
escrita. Em Portugal, é factualmente raro uma situação assim. Como surgiu a
oportunidade de o fazer?
Tenho uma família especial, essa
é a verdadeira razão. Tanto o meu marido como os meus filhos foram categóricos
ao dizer, a certa altura, “esta é a tua paixão, segue-a, cá nos arranjamos”.
Não foi fácil, e nunca teria partido para esta situação contra a vontade deles.
Vivemos por vezes momentos muito complicados em termos financeiros, mas por
outro lado é quase um projecto familiar, vibram tanto como eu (às vezes até
mais!) a cada projecto, conquista, publicação.
De qualquer forma, é bom que se
entenda que não se vive (pelo menos no meu caso) dos direitos de autor.
Dedicar-me a tempo inteiro à escrita implica sempre distribuir o tempo pelo
ensino e pelos livros, tentando equilibrar as coisas.
Com que dificuldades se tem deparado ao dedicar-se a tempo inteiro à
escrita?
Acho que as de todos os
escritores – os livros têm um tempo de vida curtíssimo, perdem-se rapidamente
num mar imenso de publicações, não existe um grande apoio aos escritores que não
estão no topo. Trabalha-se muito e há pouco reconhecimento.
E vantagens?
A enorme vantagem é trabalhar na
minha paixão, pois tanto escrever como ensinar são para mim verdadeiras
paixões. Esteja a fazer uma coisa ou outra, é sempre com o entusiasmo de partilhar
algo que é para mim vital.
Ganhou vários prémios, dos quais se destacam o Prémio Revelação Ficção
APE/IPLB e Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca (1996). O que tem sido
mais gratificante enquanto autora?
Os prémios (todos na área da
ficção para adultos) ajudaram a criar laços com editoras, a facilitar
publicações. Não sei se, sem eles, teria conseguido publicar livros para
adultos. Contudo, o mais gratificante é falar com os leitores, partilhar com
eles cada livro. Isso sim, é uma fonte de experiências que nunca se esquece.
Orienta ateliers de escrita com crianças, adultos e professores. Como
surgiu a oportunidade de o fazer? Pode falar-nos um pouco mais sobre isso?
Surgiu na sequência da minha
paixão pelo ensino, aliada ao conhecimento de como se pode pôr outros a
escrever com prazer. Comecei com projectos pequenos, tentativas de ver como
resultava, mas neste momento ocupam-me mais de metade do meu tempo de trabalho.
Dou aulas na Restart, na Universidade Católica, na EscreverEscrever, na Escrita
Criativa Online, em centros de formação. Gosto mesmo muito de o fazer – é
sempre uma descoberta para quem participa, e para mim!, são cursos muito
gratificantes. O segredo está em distrair a pessoa do peso do acto de escrever,
para que possa começar a descobrir outros caminhos e, sobretudo, o prazer na
escrita.
Tem um blogue, desde 2008, cujo título é o seu nome. Porque o criou?
Criei o blogue para ir pondo as
notícias do que vou fazendo. Neste momento, o blogue mais activo é o www.77palavras.blogspot.com.
Comecei por ter uma rubrica na revista Pais & Filhos (escrevia três
histórias em 77 palavras e a Francisca Torres ilustrava), depois a ideia
autonomizou-se e, neste momento, publico desafios de escrita a cada dia 10, 20
e 30 de cada mês. Recebo participações de pessoas de todas as idades (as
escolas aderiram em força), de Portugal e do Brasil. É um fenómeno muito
interessante! E o blogue transformou-se também numa base de dados de exercícios
de escrita criativa, pois podem ser usados para histórias maiores, claro.
Dedica-se a tempo inteiro, como já referimos ao longo da entrevista.
Tem alguma rotina de escrita?
Gostava de ter, mas não é
possível. Não tenho uma ocupação rotineira, por isso escrevo quando posso, onde
quer que esteja, aproveito todos os momentos. Às vezes estou no meio do país,
visitando escolas, tem de ser assim!
Deixe uma mensagem para os seus leitores.
O facto de partilharem comigo o
que sentiram nos livros é sempre, sempre, uma bênção. Peço-vos que continuem a
fazê-lo, é muito bom saber o que pensam. E agradeço-vos, queridos leitores, a
força, o entusiasmo, o carinho com que seguem o meu trabalho!
E para os aspirantes a escritores, pode deixar umas palavras?
Leiam muito… Desconfiem sempre de
quem diz que não lê para não se deixar influenciar – é mentira. E escrevam
regularmente, participem em concursos, experimentem todas as ferramentas que
encontrarem, façam cursos de escrita com vários professores, aprendam tudo o
que puderem. Só assim conseguirão chegar à vossa voz, àquela que é só vossa.
Vem à minha escola no mês de novembro.
ResponderEliminarJá me disseram que é uma comunicadora de mão cheia.
Obrigada pela entrevista! Um beijinho
ResponderEliminarQue possa continuar a alimentar os sonhos e a torná-los realidade. Vemo-nos em Abril, na Biblioteca da minha escola, a EB 2 e 3 de Nogueira, em Braga.Bem haja
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