À Lareira com...Maria Luís Castro, autora de "O Mundo proibido de Daniel V." e "Os teus desejos são ordens".
- Fale-nos um pouco sobre si.
Gosto
de escrever. Gosto, sobretudo, de pessoas. O mais importante para mim, é
saber que depois da meia idade, já passei a esquina dos cinquenta anos,
é possível fazer coisas, estar na vida com entusiasmo. Durante muitos
anos escrevi nos jornais, fiz rádio, televisão e até trabalhei numa
agência de notícias. Dou aulas e tenho uma vida de família muito
intensa. Todos os livros que escrevi anteriormente não se assemelham a
esta experiência que considero um dos maiores desafios que vivi.
- Quando é que começou a sentir a paixão pela escrita?
A
paixão pela escrita começou cedo, na redacção dos jornais, com
jornalistas da velha guarda que me diziam que eu não podia deixar de ler
A ou B. Comecei cedo, tinha vinte anos. Em casa dos meus pais não
existiam muitos livros. Nunca houve esse hábito. Portanto, a paixão pela
leitura começou cedo e a escrita começou por ser um namoro
jornalístico. Durante muito tempo o registo jornalístico acompanhou-me e
até pensei que seria difícil sair dele. Lentamente, com o exercício,
com a teimosia, fui criando outras formas de escrita e, hoje, é-me
impensável não escrever todos os dias.
- Numa palavra, o que a escrita significa para si?
Vida.
Escrever é estar na vida e observar o mundo. Sou uma pessoa com um
interesse muito grande pela sociologia, pela caminhada que a Humanidade
fez, sobre os fenómenos que mostram o melhor e o pior do ser o humano.
Quando uma história nasce, um livro, é sempre sobre vida.
- Porque decidiu ser jornalista?
Foi
um acaso. O meu pai conhecia uma pessoa na redacção do jornal,
precisavam de pessoas para rever textos e foi assim que tudo começou,
portanto podemos dizer que antes de ser jornalista, fui copy desk, ou
seja, revisora.
-
Publicou, o ano passado, O Mundo Proibido de Daniel V., e este ano Os
Teus desejos são ordens. Como surgiu a ideia/oportunidade de escrever
livros eróticos/sensuais?

- É um género que encontramos pouco escrito por autores portugueses. Porque acha que isso acontece?
Não
é fácil escrever sobre sexo e muito menos assumir que o fazemos de
forma explícita. Não é, se se quiser, literatura, é divertimento com uma
pitada de ousadia? Pode ser o que entenderem, é-me indiferente, desde
que cumpra o objectivo: agradar o/a leitor/a. Os grandes escritores
portugueses têm cenas de sexo nos seus livros e podia enumerar vários
exemplos, mas é melhor dizer aos leitores para procurarem os autores
nacionais e deixarem-se surpreender, não é?
-
No último ano deu-se um grande boom de romances eróticos, especialmente
de autores internacionais. Já leu algum? O que acha do género enquanto
leitora e mulher?
Li
as Sombras de Grey, por curiosidade, li os três volumes e posso dizer
duas coisas: como leitora gostei de algumas passagens e detestei algumas
que eram apenas a repetição do que já tinha sido escrito. É uma
narrativa preguiçosa, num certo sentido. Acresce que acho improvável
algumas das situações relatadas, embora admita que em ficção tudo é
possível, basta ter imaginação. Não li mais nada, até agora, até por ter
estado embrenhada em escrever estes dois volumes, procurando um fio
condutor que permitisse explorar outros assuntos, actuais, assuntos que
precisam de reflexão.
-
Tem recebido, certamente, algumas críticas aos seus livros. O que isso
significa para si e de que modo ajuda ao seu desenvolvimento como
escritora?
A
maioria das críticas surge de forma anónima, por email para a editora.
São laudatórias e eu fico feliz por ter conseguido proporcionar um bom
momento de leitura a alguém. O melhor email que recebi dizia que o
livro, em vez de uma história banal de amor-ódio e sexo, fez com que a
leitora ficasse mais atenta a determinadas questões relacionadas com a
escravatura das mulheres e, ao mesmo tempo, tinha apimentado a vida
sexual com o marido.
- A personagem principal, Verónica, é jornalista. Até que ponto esta personagem tem alguma parte de si, M.L.Castro?
Não
sou parecida com a Verónica e tenho pena, não tenho aquela idade,
aquela figura e não teria a coragem que ela demonstra ter ao enfrentar
uma rede de máfia. Mas é evidente que a minha experiência como
jornalista me permitiu relatar e descrever ambientes e formas de
pesquisa que são do meio.
- Porquê escrever sob um pseudónimo?
Por
não ter vinte anos, tenho uma família, um neto que nasceu há pouco e
não me apetece ter conversas desagradáveis com ninguém ou ser julgada
por ter aceite este desafio. As pessoas gostam dos livros, lêem, mas até
são capazes de o esconder, apenas por preconceito, para dizerem que
estão a ler, sei lá, os Maias revistos por uma série de autores,
colecção que está a sair no jornal Expresso e cujo conceito me
ultrapassa largamente. Há um certo pudor. As mulheres – e os homens, já
que tenho homens-leitores – não deixam de ler, contudo preferem manter o
recato, afinal sempre é um livro onde se diz que um pénis entrou numa
vagina e os portugueses são muito pouco abertos a falar sobre a
sexualidade. Não deixam de ter interesse por causa disso e também não
deixam de comprar e ler.
- Tem algum novo projecto em mãos? Teremos mais aventuras da Verónica para acompanhar?
Nunca
se sabe. Há um ditado que diz que o futuro a Deus pertence e eu não sou
uma mulher que goste de fazer planos. Gosto de ser surpreendida na vida
e nos desafios que ela me traz.
-
Para terminar, deixe uma mensagem aos leitores do Tertúlias à Lareira,
muitos deles mulheres que se apaixonaram por este género de leitura.
Espero
que continuem a ler e que possam partilhar o vosso interesse com outras
pessoas. Pessoalmente, agradeço a imensa generosidade e o facto de se
comprarem os meus livros, de os lerem e acarinharem. A maioria das
pessoas não tem ideia do trabalho que dá escrever um livro e, muito
menos, uma sequela. Esse reconhecimento é gratificante e eu estou muito
contente por ter chegado a tanta gente.
Obrigada
A entrevista está muito boa, Ni! Parabéns :)
ResponderEliminarNunca li nada da autora, mas quem sabe um dia destes!
Beijinho *
Obrigada querida. Por acaso deu-me imenso gozo escrevê-la :)
EliminarTambém nunca li nada, uma amiga minha está a ler, vamos lá ver o que ela acha:)