sábado, 2 de março de 2013
[Personalidades] - Amélia Rey Colaço
Amélia Schmidt Lafourcade Rey Colaço Robles Monteiro nasceu em Lisboa a 2 de Março de 1898 e foi uma encenadora e actriz portuguesa.
Considerada a mais proeminente figura do teatro português do século XX, recebeu da família o primeiro contacto com as artes — o pai, Alexandre Rey Colaço, era pianista, compositor e professor dos príncipes, e a avó, Madame Reinhardt, tinha um salão literário e musical em Berlim. Decidiu enveredar pelo teatro aos quinze anos, depois de assistir, na Alemanha, às peças do encenador austríaco Max Reinhardt. No regresso a Portugal iniciou aulas de teatro com Augusto Rosa. Corria o ano de 1917 quando se estreou no então Teatro República (hoje Teatro São Luiz), na peça Marinela de Benito Pérez Galdós. Para fazer a personagem, uma rude vagabunda, aprendeu, durante meses, a andar descalça e a usar farrapos, no interior do jardim do seu palacete.
Casou-se em Dezembro de 1920 com o actor beirão Robles Monteiro, em Dezembro de 1920. No ano seguinte os dois fundam uma companhia de teatro própria — será a mais duradoura de toda a Europa, com cinquenta e três anos de duração — a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II e oficialmente extinta em 1988.
Na direcção da companhia actuou em vários planos — estruturou um grupo coeso e exigente, empenhou-se na dignificação social do actor, conquistando para ele um estatuto de superioridade, à medida que organizava um reportório ambicioso, à revelia da censura. Chamou pintores prestigiados para colaborarem na cenografia, casos de Raul Lino, Almada Negreiros ou Eduardo Malta. Contratou nomes que eram ídolos do público de então, como Palmira Bastos, Nascimento Fernandes, Alves da Cunha, Lucília Simões, Estêvão Amarante, Maria Matos ou Vasco Santana. Fazendo escola, revelou uma inteira geração de novos actores, como Raul de Carvalho, Álvaro Benamor, Maria Lalande, Assis Pacheco, João Villaret, Augusto de Figueiredo, Paiva Raposo, Eunice Muñoz, Carmen Dolores, Maria Barroso, João Perry, Madalena Sotto, Helena Félix, Rogério Paulo, José de Castro, Lurdes Norberto, Varela Silva, Ruy de Carvalho, Filipe La Féria ou João Mota. Alternando entre obras clássicas e modernas, abriu como nunca as portas à dramaturgia portuguesa, representando obras de António Ferreira, José Régio, Alfredo Cortez, Virgínia Vitorino, Carlos Selvagem, Romeu Correia, Bernardo Santareno, Luís de Sttau Monteiro, entre outros. Com ousadia, revelou autores como Jean Cocteau, Jean Anouilh, Lorca, Brecht entre outros.
Acarinhada ao longo da sua carreira, cultivou a admiração de Oliveira Salazar e antigos monarcas, tendo sido amiga da rainha D. Amélia de Orleães. Entre as distinções que recebeu contam-se insígnias de Dama da Ordem das Artes e Letras, da República Francesa e, em Portugal, o grau de Comendadora da Ordem da Instrução Pública (17 de Março de 1933), da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2 de Novembro de 1961) e da Ordem Militar de Cristo (13 de Dezembro de 1967), tendo sido elevada a Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (30 de Agosto de 1978).
Em princípios de 1974, Amélia Rey Colaço regressa ao São Luiz, de onde partira. Pouco depois dá-se o 25 de Abril e, percebendo que a vão encarar como um símbolo do Estado Novo, suspende a companhia e sai de cena, assumindo a injustiça com discrição. Deixava para trás espectáculos antológicos, como Castro, Salomé, Outono em Flor, Romeu e Julieta, O Processo de Jesus, Topaze, A Visita da Velha Senhora ou Tango. O último grande papel vem, contudo, a desempenhá-lo aos oitenta e sete anos, na figura de D. Catarina na peça El-Rei D. Sebastião, de José Régio. Em 1988, aquando da extinção oficial da companhia, Amélia Rey Colaço vê-se forçada a leiloar o recheio da casa do Dafundo, cedida pela marquesa Olga do Cadaval, e a abandoná-la.
Em 1990 morre em Lisboa, junto da sua filha, Mariana Rey Monteiro, também já falecida.
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