domingo, 9 de setembro de 2012

[À Lareira com...] - Elizabete Cruz


À Lareira com...Elizabete Cruz, autora do livro "O Homem que amava Demais".




Fale-nos um pouco sobre si

Sinceramente, não sei ao certo o que dizer sobre mim. Sou uma pessoa complicada, tão complicada que às vezes me irrito a mim mesma. Tenho ideias fixas, e a teimosia é um dos meus piores defeitos. Gosto imenso de sarcasmos e ironias, quando sou eu que os uso. Odeio que digam coisas num português incorrecto ou que cometam erros ortográficos e sim, isto enerva muita gente. Odeio que me contrariem, mas adoro contrariar os outros. Adoro piercings e tatuagens, e tenho uma mente muito aberta. Odeio julgamentos por aparência, embora inevitavelmente também os faça. Adoro as artes do espectáculo, seja dançar, cantar ou actuar, e não me importava de fazer disso carreira. Adoro música, e não evito escrever com uma musiquinha de fundo, para ver se a inspiração vem. Admito que muitas vezes aquilo que escrevo, foi ideia dada por alguma música, e constantemente uso nomes de músicas para nomear os capítulos dos meus livros.

Nasceu na Suiça, há 20 anos. Quando veio para Portugal? Tem algumas memorias da suiça? Se sim quais?

Vim para Portugal quando tinha quatro anos. Com esta idade, é natural que não tenha retido muita coisa na memória, mas sim, lembro-me de algumas coisas. Uma delas é a neve! Lembro-me de brincar na neve, e fico feliz por pelo menos guardar esta memória. Lembro-me também do terraço que havia em cima do prédio em que morava, e do meu vizinho da frente. Felizmente já tive a oportunidade de lá voltar, e ter um vislumbre do belo país que é a Suíça.

Aos 16 anos começou a escrever o seu primeiro livro, mas acabou por “ficar na gaveta”. Porque razão “desistiu” desse livro?
           
Este foi um livro que eu iniciei porque precisava de contar certas coisas que se passavam na minha vida, tendo por isso contornos bastante pessoais. Na altura tinha mais o hábito de escrever num diário, mas a verdade é que sentia necessidade de partilhar esses acontecimentos com algo mais do que folhas de papel. Não me demorou muito tempo para perceber que, com aquela idade, não tinha ainda maturidade suficiente nem para escrever um livro, nem para contar esses pormenores da minha vida. A ideia acabou por ficar esquecida, como acontece a muitas ideias que temos na adolescência. Claro que ainda hoje acho que aquilo que pretendia escrever daria provavelmente uma óptima história, e sei que os anos que passaram me trouxeram a maturidade e o engenho de que precisava. É possível que um dia eu volte a pegar nessa ideia, e lhe dê os contornos que não era capaz de dar quando tinha 16 anos.
           
Em 2010 publicou o seu primeiro “projecto a sério”, o livro “Espelho Indesejado”. Como surgiu a ideia e a oportunidade de publicar este livro?

Quase se pode dizer que tudo começou graças a uma pontada de inveja saudável. Na altura, uma amiga minha editou o seu primeiro romance, e ao vê-la conseguir, eu soube que também tinha capacidade para o fazer. Como eu tinha o hábito de escrever contos, peguei num de que gostava e decidi desenvolvê-lo. Assim começou o “Espelho Indesejado”! Depois, foi só ir acrescentando um ingrediente ali, outro acolá, ler e reler até que estivesse ao meu gosto. Acabei também por incluir factos que facilmente seriam associados à minha família, já que com aquela idade ainda mal tinha visto o mundo. Escrevi o livro em pouco mais de um mês, durante as férias de Verão, e depois lá fui eu à procura de uma editora. Procurei na internet alguns nomes, retirei alguns e-mails, e curiosamente só enviei o original para uma, a HM Editora. Nem me ocorreu enviar para mais nenhuma, porque não fazia ideia que a resposta ia demorar eternidades. Passaram três meses, e como eu não tinha obtido qualquer resposta, esqueci o assunto. Foi então que a resposta chegou, uma resposta positiva na qual eu tive muita dificuldade em acreditar: ia ter o meu primeiro livro editado, numa edição que acabou por não ter qualquer custo para mim.

Como se sentiu ao ver, pela primeira vez, o seu livro publicado e receber as primeiras criticas ao mesmo?

Quando recebi o meu primeiro exemplar, não queria acreditar que aquele era o meu livro, que realmente tinha conseguido. Passei imenso tempo com ele na mão, porque aquele era o meu bebé, o meu primeiro, e tinha o maior orgulho na sua existência. Eu nem sequer sou uma pessoa com imensa força de vontade, e fazer algo que nem toda a gente consegue fazer encheu-me bastante o ego.
Quanto às críticas, posso considerar que foram muito boas. Foi uma novidade na minha freguesia, é um facto, e as pessoas movem-se pelas novidades, e se calhar por isso tenha vendido bastante bem. Mas no geral, as pessoas gostaram da história, e pediram mais. Só reclamaram que morria muita gente, e disseram que eu devia escrever uma história de amor. Eu juro que tentei, mas quem leu “O Homem Que Amava Demais”, sabe que os planos me saíram todos furados!           

Em Abril deste ano publicou o seu segundo livro, “O homem que amava demais”. Porquê a escolha deste titulo para este livro?

Bem, na hora de escolher os títulos dos meus livros, eu sou muito esquisita. Penso em mil títulos, e nunca nenhum se parece adequar ao que eu quero. Para mim, o título não pode ser óbvio, tem de fazer a pessoa interrogar-se “Porquê?”. Ora, este “O Homem Que Amava Demais” pareceu-me adequado porque sugere algo que definitivamente não acontece no livro, ou pelo menos não da maneira que se espera: o amor. Eu gosto que as pessoas tenham que ler para perceber, gosto que se intriguem e no final pensem “Ah, agora faz sentido!”. Posso dizer orgulhosamente que fiz com que fizesse sentido, que fiz com que as pessoas percebessem porque tinha aquele homem amado demais.       

Em Outubro, será publicada uma colectânea, “Ocultos Buracos”, onde contará o seu conto “O animal mais perigoso”. O que nos pode desvendar sobre este?

Senti-me a “jogar em casa”, ao escrever este conto. O tema da colectânea é “Histórias Horríveis ou Impossíveis”, e eu posso dizer que sou muito boa a escrever quando não tenho de incluir cenas de romance, porque para esse tipo de cenas realmente não tenho jeito nenhum. Por isso, deu-me um gosto especial escrever este conto, tanto que até nem me importei de passar horas a fazer pesquisa para escrever um algo apenas com cinco páginas. Para este “O Animal Mais Perigoso” peguei num dos assuntos que mais me fascina e que mais vontade me dá de ler: os serial killers que existem na história da humanidade (sim, por mais estranho que possa parecer, eu adoro ler sobre serial killers!). Por isso, podem contar que esta história vá rondar estas pessoas insólitas que fizeram coisas horríveis e que marcaram de forma negativa a raça humana.

Para além da escrita, estuda radiologia. Como se imagina no futuro?

Vejo o meu futuro bastante nublado, admito. Com certeza que por muito que escreva, a minha profissão será sempre técnica de radiologia, e não escritora. Não gosto de escrever por “obrigação”, mas sim por prazer. Não levo a escrita muito a sério, não quero obrigatoriamente ser autora de best-sellers (o que tiver de ser será) e muito menos quero ser reconhecida na rua (não significa isto que não goste de ver o meu trabalho reconhecido, só gosto de ficar no meu cantinho sem grandes incómodos). Chega-me que os meus amigos saibam o que faço. Por isso mesmo, técnica de radiologia está bom para mim. E como tal, dada a crise em que vivemos e aos cortes que a área da Saúde levou, acredito mesmo que o futuro me vá levar ao estrangeiro, possivelmente de volta à Suíça.

O que a escrita significa para si?

Posso dizer que a escrita é uma forma de arrumar os meus pensamentos. Sempre tive uma imaginação muito grande, sempre gostei de inventar personagens e formas de as entrelaçar. Quando era mais nova, imaginava-me na pele de pessoas diferentes de mim, ou até inventava personagens novas para os filmes que via e arranjava maneira de elas fazerem sentido ali. Foi essa imaginação que me levou à escrita, foi a necessidade de tirar aquela confusão da minha cabeça e guardá-la noutro sítio. Por isso, a escrita para mim é um refúgio para toda aquela gente que eu inventei, e que tiveram que “mudar de casa”. Por isso mesmo, eu nem considero uma escritora, estou mais para contadora de histórias, e nem me importo que me digam que a minha escrita é assim ou é assado. Não quero primar por descrições espectaculares ou cenas super tensas. Eu só quero que as pessoas conheçam estes coitadinhos que não cabiam mais na minha cabeça, mas que mesmo assim mereciam um lugar ao Sol.

Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.

Que posso eu dizer? Leiam, leiam muito! Ler traz momentos divertidos, faz chorar, faz-nos ficar tensos. Melhor, ler faz emagrecer e previne alzheimer! Por isso, leiam até que os vossos olhos se cansem! E apoiem o que é nacional, porque existem óptimos autores portugueses, que merecem muito mais prestígio do que o que têm. Muitas vezes, andam ofuscados por editoras que não lhes dão o devido valor, e estes acabam por “cair na valeta” por falta de apoio. Procurem-nos, porque eles andam aí, a maioria das pessoas é que nem os vê. 

Obrigada Elizabete

2 comentários:

  1. Gostei especialmente da mebsagem final! Concordo em absoluto.
    Teresa Carvalho

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  2. Concordo, Teresa. É mesmo isso, dá trabalho mas procurá-los não custa assim tanto!

    Vasco
    http://vascoricardo.blog.com

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