segunda-feira, 7 de maio de 2012

[Opinião] - " A Devota" de Ricardo Tomaz Alves




“ A pequena menina ruiva nunca mais esqueceria o dia do funeral, um dia em que por mais forte que o sol estivesse não conseguiria afastar o cinzento da tristeza dos presentes.”



“ A Madre Teresa disse-me um dia (…)que não existem pessoas boas ou más. Existem apenas pessoas com diferentes percepções do bem e do mal.”





 
Já acabei de ler este livro há algum tempo. Mas admito que fiquei a digeri-lo, pois não conseguia transpor para o papel aquilo que realmente devia. Talvez ainda não consiga.

Inicialmente não me prendeu. Pareceu-me tudo demasiado religioso, talvez até um pouco beato, o que não é, de todo, a minha praia. (Não que não seja religiosa, mas desde que o meu pai morreu a minha fé alterou-se um bocadinho, mas isso não é assunto para agora).
Ao longo de dois ou três capítulos estive quase a pousá-lo, mas decidi ler mais um pouco. E ainda bem que o fiz pois revelou-se uma boa surpresa.

Não querendo fazendo spoiler, mas de modo a que percebam a minha opinião, este livro fala-nos sobre Sara, a personagem principal, que nasceu no seio de uma família bastante religiosa, mas que se viu devastada pela misteriosa morte do sei pai. Após isso Sara vai para um colégio de freiras e é aí que começa a crescer.
A evolução da personagem Sara foi um dos pontos fortes do livro. Inicialmente achei-a sem graça, pelas mesmas razões que afirmei no início em relação ao livro. No entanto a direcção que o seu desenvolvimento toma torna-a bastante interessante, podendo mesmo pôr-nos a pensar um pouco como ela teria pensado naquele momento. No entanto, o meu personagem preferido neste livro é Tomás. Talvez o seja por eu me identificar especialmente com a maioria das suas ideias, que são muitíssimo bem expostas ao longo de toda a leitura. Julgo também ser uma personagem de grande relevância para o evoluir da personagem principal, e no final tem um papel preponderante e emotivo.

Algo de que gostei imenso foram as descrições que o autor faz de Sintra. Sendo de Lisboa já lá fui várias vezes e revi tudo o que lia, todos os sítios, os palácios e até mesmo os cafés típicos da zona. Quase consegui sentir o sabor dos travesseiros de Sintra que eu tanto gosto. Para quem não conhece a localidade, com tão boas paisagens e explicações sobre os diversos locais a visitar, com certeza vão ficar cheios de vontade de lá ir conhecer.

O final do livro foi bastante inesperado e deixou-me bastante curiosa com a teoria que o autor postula, parecendo-me bastante interessante a mesma.
É inevitável dizer que chorei ao longo do livro, talvez por ter algumas coincidências com a minha vida, como a morte do pai seguida da morte da avó da Sara. A mim tocou-me especialmente.

Um dos pontos que talvez gostei menos foi o facto de, por vezes em alguns nomes, o autor escrever apenas a inicial, do género S. Percebo por que razão o fez, mas fazia com que me perdesse na frase.

É um livro que recomendo, mas que se tem que ler com um estado de espirito peculiar e uma mente algo aberta. Por ser um livro que aborda a religião e a igreja pode ser visto como algo polémico e que nos faz pensar no que acreditamos. É um livro que ou se gosta ou não se gosta, julgando ser difícil haver um meio-termo. Ou seja, é difícil ficar indiferente.


“ - Acreditas em Deus? Passas a vida a negá-Lo e a tentar provar a sua inexistência e o facto de haver na bíblia acontecimentos impossíveis e fantasiosos…
- Acredito. Não acredito é no Homem.
- Mas se foi o Homem que te disse que Ele existe…
-Não, foi o meu coração. Os Homens só Lhe deram nome. Não sei o Seu nome ou nomes ao certo, mas sei que tem que haver algo ou alguém, uma entidade superior que zela por nós…”

1 comentário:

  1. Além de bem escrito, tem uma abordagem muito perspicaz aos assuntos. Leveza e subtilidade.
    Gostei muito e recomendo.

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