“Imagino, então, que somos todos
chamas de velas, agitando na escuridão e no uivo do vento o nosso brilho
oleoso, e na quietude do quarto ouço passos, passos horríveis que chegam, que
vêm para me apagar com um sopro e afastar a minha vida de mim, numa espiral de
fumo cinzento.”
Não sou dada, como já devem saber, a
leituras do género policial nem a thrillers. Apesar disso, se um livro deste
género me prender a atenção, não me afasto da sua leitura. Posso dizer que
enquanto leitora gosto de ser surpreendida, e foi precisamente isso que
aconteceu com a leitura deste livro. Como depressa percebi, este não é um livro
que possa, ao contrário do que pensei inicialmente, enquadrar num género
literário específico.
A história contada por Hanna Kent baseia-se
em factos verídicos e incide nos últimos tempos de vida de Agnes Magnúsdóttir,
a última pessoa condenada a morte e executada através do corte de um machado.
Enquanto espera pela data da sua execução, Agnes é albergada numa quinta
isolada, onde passa os dias a trabalhar no campo com a família que a acolheu.
O desenrolar desses dias é contado da
perspetiva da família residente na quinta, do padre que acompanha Agnes até ao
seu destino final e da própria Agnes. Enquanto os dias vão passando, devagar, a
forma como o leitor vê Agnes e o crime por ela cometido vai sofrendo
alterações, bem como a empatia que o mesmo sente pela personagem.
Pode-se dizer que é um livro que se lê
de forma bastante gradual e que não apresenta grandes reviravoltas, no entanto,
marca pela intensidade e profundidade da forma de escrita da autora, que nos
envolve e submerge, de forma a que enquanto lemos o livro, nos sentimos
assoberbados pela narrativa. Imbuída de uma carga emocional grande e escrita de
uma forma sublime e carregada de poesia, a escrita da autora foi o que me fez
gostar tanto deste livro.
Nunca antes tinha lido uma narrativa
com tal conjunto de características, pelo que foi com enorme prazer que me
submeti à leitura deste livro. Senti-me esmagada pela sua escrita envolvente.
Espero que se sintam assim também, se decidirem lê-lo.
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