sexta-feira, 10 de julho de 2015

[Opinião Tertuliana] - "Últimos Ritos" de Hannah Kent




“Imagino, então, que somos todos chamas de velas, agitando na escuridão e no uivo do vento o nosso brilho oleoso, e na quietude do quarto ouço passos, passos horríveis que chegam, que vêm para me apagar com um sopro e afastar a minha vida de mim, numa espiral de fumo cinzento.”





Não sou dada, como já devem saber, a leituras do género policial nem a thrillers. Apesar disso, se um livro deste género me prender a atenção, não me afasto da sua leitura. Posso dizer que enquanto leitora gosto de ser surpreendida, e foi precisamente isso que aconteceu com a leitura deste livro. Como depressa percebi, este não é um livro que possa, ao contrário do que pensei inicialmente, enquadrar num género literário específico.

A história contada por Hanna Kent baseia-se em factos verídicos e incide nos últimos tempos de vida de Agnes Magnúsdóttir, a última pessoa condenada a morte e executada através do corte de um machado. Enquanto espera pela data da sua execução, Agnes é albergada numa quinta isolada, onde passa os dias a trabalhar no campo com a família que a acolheu.

O desenrolar desses dias é contado da perspetiva da família residente na quinta, do padre que acompanha Agnes até ao seu destino final e da própria Agnes. Enquanto os dias vão passando, devagar, a forma como o leitor vê Agnes e o crime por ela cometido vai sofrendo alterações, bem como a empatia que o mesmo sente pela personagem.

Pode-se dizer que é um livro que se lê de forma bastante gradual e que não apresenta grandes reviravoltas, no entanto, marca pela intensidade e profundidade da forma de escrita da autora, que nos envolve e submerge, de forma a que enquanto lemos o livro, nos sentimos assoberbados pela narrativa. Imbuída de uma carga emocional grande e escrita de uma forma sublime e carregada de poesia, a escrita da autora foi o que me fez gostar tanto deste livro.

Nunca antes tinha lido uma narrativa com tal conjunto de características, pelo que foi com enorme prazer que me submeti à leitura deste livro. Senti-me esmagada pela sua escrita envolvente. Espero que se sintam assim também, se decidirem lê-lo. 

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