quarta-feira, 20 de novembro de 2013

[Opiniões Tertulianas] - "A Bibliotecária de Auschwitz" de Antonio G. Iturbe



"Apercebe-se com tristeza de que foi nesse dia , e não no da sua primeira menstruação, que abandonou a meninice, porque deixou de ter medo de esqueletos e de velhas histórias de fantasmas e começou a ter medo dos homens."

"Naquele lugar tão escuro onde a humanidade conseguira alcançar a sua própria sombra, a presença de livros era um vestígio de tempos menos lúgubres, mais benignos, quando as palavras falavam mais alto do que as metralhadoras."










Bibliotecária” e “Auschwitz”, bastaram estas duas palavras para eu ter a certeza absoluta de querer ler este livro, certeza que se consolidou quando li a sua sinopse. Como eu já devo ter referido numa outra opinião, eu adoro, venero, devoro livros relacionados com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, principalmente se forem baseados em factos verídicos. Por essa razão eu já li livros como “O Diário de Anne Frank”, “Tempo para falar”, “A menina que roubava livros”, “Clara – A menina que sobreviveu ao Holocausto”, entre outros. Podem-me chamar de masoquista, porque é impossível que eu não chore ao ler qualquer um destes livros. Mas a verdade é que ao lê-los eu sinto-me de alguma maneira mais perto daquelas pessoas e do seu sofrimento nas mãos dos nazis, e ao mesmo tempo sinto que ao ter conhecimento das atrocidades cometidas nessa época, através dos testemunhos daqueles que as sofreram na pele, estou a manter vivas as pessoas que os escreveram.
 Para além disso, este livro fala da importância dos livros e das maravilhas que eles podem conter. Ora, visto que uma das minhas grandes paixões é a leitura, como poderia eu deixar de ler este livro?

 Como podemos ler no título, a heroína desta história é uma bibliotecária. Mas Dita não é uma bibliotecária qualquer, daquelas que se encontram em qualquer biblioteca, rodeada de estantes de livros. Não, Dita é a bibliotecária do Bloco 31, um dos muitos barracões existentes no campo de concentração de Auschwitz. Mas este barracão é diferente de todos os outros, pois ao entrarmos lé dentro não encontramos beliches e pessoas moribundas, mas sim crianças a aprender, como se as suas vidas não tivessem dado uma volta de 180 graus e elas não estivessem sido privadas da sua liberdade e do seu futuro. Surpreendentemente, foi possível, graças à grande pessoa que foi Fredy Hirsch, criar uma escola dentro daquele campo de morte. E é nesta escola improvisada, onde os lápis são construídos a partir de paus de madeira e o papel é escasso, que Dita executa a sua função de bibliotecária, tendo à sua guarda apenas 8 livros, escondidos num alçapão, porque em Auschwitz possuir um livro, seja ele qual for, é uma sentença de morte. Estes livros, apesar de serem “apenas” oito e de estarem velhos, com a capa e as folhas descoladas, eram o tesouro de Dita, por isso ela os guardava e os tratava com tanto carinho e cuidado, para que os guardas das SS não os descobrissem, pois isso, para além de ser a sua sentença de morte seria também a morte da infância de todas aquelas crianças, cerca de 300, que deixariam de ter um lugar onde serem elas próprias e de sentirem que tinham uma vida normal.

 E é a passagem desta rapariga de apenas 14 anos e com pernas fininhas mas com uma coragem que há poucos, por este campo de extermínio que foi Auschwitz que este livro nos dá a conhecer. Muitos podem pensar que era inútil arriscar a vida por livros, afinal livros são nos matam a fome nem nos tiram a sede, mas fazem com que num lugar onde não podemos impedir a detioração do nosso corpo, ao menos possamos impedir que a nossa mente morra. E é isso que Dita faz quando se senta num canto do Bloco 31 a ler os seus preciosos livros, porque por um momento, ela deixa para trás a terrível realidade do campo de concentração e visita lugares dos quais a fome, a sede e o sofrimento não fazem parte.

Provavelmente a melhor leitura deste ano, “A bibliotecária de Auschwitz” vai ficar na minha memória por muito tempo. Recomendo vivamente a leitura deste livro, para mim devia de ser obrigatória, pois todos deviam saber que mesmo num mundo devastado pela guerra e onde reina o sofrimento e a morte, ainda há esperança se pegares num livro, porque “um livro é um alçapão que dá acesso a um desvão secreto. Abrimo-lo e metemo-nos lá dentro. E o mundo passa a ser outro”.

Inês Rodrigues

Sem comentários:

Enviar um comentário