[Opinião] - "O Livro Negro" de Hilary Mantel

"Ele sabe que as palavras de Brandon darão voltas na sua cabeça assim que essa cabeça tocar na almofada. <>. Inútil jurar vingança contra o Duque Tacho Gorduroso. Vai desgraçar-se a ele próprio e talvez definitivamente desta vez, a gritar por Greenwich fora que Henry é um marido enganado. Decerto que nem um velho favorito pode fazer isso impunemente?"






Como é de conhecimento geral, sou grande fã de livros históricos, se forem romance melhor ainda. Ainda não tinha lido nada desta autora, mesmo sendo este o segundo livro de uma trilogia, que começou com "Wolf Hall".

Quando se pesquisa sobre Hilary Mantel, e sobre o seu primeiro livro, rapidamente percebemos que estamos perante um fenómeno no que diz respeito a este género literário, o que me empolgou ainda mais para pegar nesta leitura. Quem me segue mais de perto sabe que o li em cerca de um dia, o que pode dar a entender o quanto este me prendeu.

Esta trilogia é sobre Thomas Cromwell, importante conselheiro de Henrique VIII, e dá-nos a conhecer a corte deste rei, as personagens que o rodeavam, e acima de tudo as lutas pelo poder que existiam naquela época.

Sendo eu uma apaixonada pelo histórico, em especial pela guerra das rosas e, claramente, pela casa de Tudor, foram já vários os romances que li sobre esta época. É fascinante perceber como livros de diversos autores, sobre o mesmo assunto, se complementam de maneira única, acabando por preencher quaisquer lacunas que possam existir no nosso conhecimento. É claro que não podemos esquecer que, mesmo tendo grande parte de pesquisa e de factos e personalidades históricas, tudo o resto é ficção. E é nesse ponto que me fascino novamente. É muito interessante ver como, cada um à sua maneira, consegue criar um mundo diferente, com personagens diferentes, e bastante carismáticas, tendo por base os mesmos factos reais.

Este é um livro menos romanceado do que estou habituada a ler, o que foi uma surpresa - uma boa surpresa. É uma leitura que nos leva pelos caminhos da intriga, da luta pelo poder, onde os fins justificam os meios e onde, num dia se sobre bem alto, mas no outro se cai sem igual. Conta-nos parte do tempo em que Henrique VIII esteve com Ana Bolena, em que esta foi rainha de Inglaterra, e em como esta acabou morta, tendo Thomas Cromwell o seu papel fulcral neste desfecho.
Mais do que o romance, e as intrigas que envolvem mulheres, que muito lemos em livros históricos, este dá-nos um maior conhecimento, e com bastante rigor, das políticas da época, de como a religião se tornou realmente importante e qual o real papel desta no funcionamento da corte e de todo um reino. Como as mulheres, e alguns homens de classe mais baixa, não passavam de meros peões para que as altas rodas conseguissem o poder que tanto ansiavam.

Uma escrita bastante bem conseguida, com descrições excelentes, em especial sobre os factos anteriormente referidos, levaram-me, mais uma vez, a um mundo onde tudo é possível, onde acontecem coisas que talvez nunca pensássemos que homens pudessem fazer, onde a fúria e ódio andam de mãos dadas com o cinismo, a adoração e o poder.

Uma leitura que aconselho, em especial a quem gosta, como eu, deste género de livros.