À Lareira com...Fátima Caetano(FC) e Rita Rebelo(RR), autoras do livro "1 ano a encher o mealheiro".
Falem-nos um pouco sobre vós
RR - Sou jornalista e a minha vida é
criar, escrever, comunicar. Além disso, sou viciada em preencher os meus
dias... de trabalho, de ideias, de encontros e conversas, de passeios, tarefas
e atividades. Acho que não sei não fazer nada.
FC – Isto de falar sobre nós é um pouco
complicado. Sou jornalista há 15 anos e penso que no fundo sou uma privilegiada
por poder fazer o que gosto que é comunicar e ter acesso a histórias de vidas e
situações que me fazem olhar para o mundo e para a realidade que me rodeia de
uma forma critica. Quantos podem hoje em dia dar-se ao luxo de trabalhar no que
gostam? Tenho essa sorte. Aparte isso sou uma pessoa ativa, prática e é dessa
forma que tento levar a vida.
RR - Numa altura em que se avizinhavam os
efeitos provocados pelas medidas de austeridade, houve necessidade de fazer
reajustes nas rotinas... e esse foi o tema da conversa que levou à origem do
livro. Estávamos a jantar com amigas e partilhávamos algumas preocupações e
decisões. A propósito da necessidade de reaprender um novo estilo de vida,
recordámos ali alguns casos de famílias que conhecemos durante tantos anos de
trabalho em programas de televisão. No fundo, apercebemo-nos de que tínhamos
imensa informação recolhida sobre o tema
e que essa informação poderia ser útil a muitas outras pessoas. A
Matéria-Prima Edições apoiou a ideia e assim nasceu este livro.
FC – Foi uma ideia que decidimos apresentar
e que a matéria prima acarinhou. E numa altura em que todos nós precisamos de
gerir as nossas finanças de uma forma mais inteligente. Se os leitores ao pegar
neste livro de identificarem com alguns dos casos que ali se encontram e
conseguirem rever e repensar as suas rotinas e hábitos, e se se sentirem
inspirados de alguma forma a mudar comportamentos para tentar poupar nem que
seja um euro por dia, então já ficamos realizadas. É que de facto foi em
pessoas que sempre foram regradas e que sempre tentaram viver de uma forma
menos consumista que nos inspiramos para este livro.
RR - Foi muito agradável e
surpreendentemente fácil. O facto de termos sido colegas durante muitos anos e
de termos uma amizade acabou por facilitar tudo. Podemos dizer que não foi
sequer necessário adaptar a linguagem, o estilo ou o ritmo da escrita, porque
houve uma perfeita sintonia em relação ao trabalho que estava a ser feito.
FC – Foi fantástico. Costumamos dizer que
amizade não se deve misturar com trabalho e que temos de saber separar as
“águas”. Posso até dizer que esse era até o nosso maior receio, o podermos
entrar em “choque” porque o facto de sermos amigas podia até dificultar o
trabalho. Mas não foi o que aconteceu. Foi surpreendentemente fácil e estivemos
sempre em sintonia da primeira à ultima frase. Penso que temos talvez a
vantagem de termos trabalhado juntas muitos anos em televisão. Estávamos até
sentadas ao pé uma da outra e conhecíamos bem a forma de pensar de cada uma e a
maneira de ser de cada uma. E quem trabalha em televisão sabe que não há espaço
para um trabalho individual. É um trabalho de equipa. Por isso quando este
livro surgiu o nosso trabalho foi de “equipa” também. Depois a trabalhar também
somos muito parecidas em termos de ritmos. Isso facilitou tudo.
São ambas jornalistas e ambas trabalham/trabalharam em televisão. De que modo a
vossa formação influenciou a escrita e a publicação deste livro?
RR - Sermos jornalistas e trabalharmos em
televisão influenciou em todos os aspetos este livro. Foi o facto de
comunicarmos diariamente com pessoas de todas as classes sociais e económicas e
de termos bem presente a realidade que a maioria das famílias portuguesas vive
atualmente que nos permitiu colocar no livro tantos conselhos e histórias que
acreditamos que podem fazer qualquer um de nós descobrir e adotar novas formas
de poupança.
FC – Influenciou em tudo. Somos as duas
formadas em comunicação social e jornalistas há vários anos em programas de TV
diários. Os denominados programas do day time. É nesses programas que as
pessoas ,o cidadão comum ,tem voz e rosto muitas vezes. É nesses programas que
vamos a casa das pessoas fazer uma reportagem e estamos em contacto com a sua
realidade, vemos a forma como vivem e contactamos com as suas alegrias,
tristezas e vemos com os nossos olhos as dificuldades com que se confrontam no
seu dia a dia. E o interessante é que quando as pessoas são “ouvidas”
contam-nos as suas vivencias de uma forma aberta e sem pudores ou vergonhas. E
foi assim que muitas pessoas nos contaram como viviam, como faziam para poupar
como se habituaram a viver…muitas coisas. Por isso é que este livro não é um
livro de economia, nem de formulas e teorias. Isso é para os economistas e nós
somos apenas duas cidadãs comuns que são jornalistas e que ao longo de anos
ouvimos imensos relatos sobre a temática da poupança. Por isso é que este é um
livro, um Manuel pratico de conselhos,
dicas e historias reais que nos foram relatadas na primeira pessoa que exemplificam
como é que é possível poupar.
Têm mais algum projecto a nível literário em mãos de momento? Se sim, podem
falar-nos um pouco dele?
RR - Para já, temos algumas ideias... mas
temos estado um pouco mais dedicadas à divulgação de "1 ano a encher o
mealheiro"... Esperamos ter novidades brevemente.
FC – Temos ideias e iremos concretizá-las
com toda a certeza. Pensamos que este pode ter sido o nosso primeiro trabalho a
4 mãos…Mas tudo a seu tempo.
Qual julgam ser a importância de leituras do género deste livro tendo em conta
a conjuntura actual do país?
RR - Quando à maioria dos portugueses não
resta outra alternativa que não adaptar-se e conseguir viver com menos, e não
sendo isso uma missão muito fácil, acredito que os livros práticos deste género
podem permitir a cada um tirar ideias para colocar em prática imediatamente na
sua prórpia vida. Neste livro não há teorias, há conselhos e ideias práticas
que podem tornar mais fácil a missão de gastar menos e conseguir até poupar.
Não é preciso acreditar, basta experimentar. Os livros práticos têm a vantagem
de nos estimular para agir no imediato.
FC – Este pode ser um livro que inspire
as pessoas a mudar alguns hábitos na sua vida. O fazer um orçamento e perceber
que é importante faze-lo, o gerir os gastos, tomar nota dos gastos para depois
ver onde se gastou mal ou onde se podia ter poupado, o simples gesto de tentar
colocar uma moeda até num mealheiro em casa…ao ler este manual as pessoas podem
pensar que é possível poupar ou que pelo menos vale a pena tentar. Esta crise
afecta-nos como há poucos anos ninguém sonhava que pudesse acontecer. As
pessoas hoje em dia já estão cientes que de um dia para o outro podem ficar
desempregadas, que é precisar tentar fazer um pé-de-meia, que é preciso ensinar
as crianças a poupar também….Talvez este livro dê ideias e dicas que motivem as
pessoas para a mudança de alguns comportamentos e que vivam bem na mesma,
consumindo menos. E acima de tudo gerindo melhor o seu dinheiro.
De que modo esperam que este livro ajude os portugueses nestes tempos difíceis?
RR - Na sequência da resposta anterior,
espero que este livro consiga fazer os leitores descobrirem modos de vida mais
económicos. Que consigam chegar ao final do mês e - contas feitas - que
concluam que estão a gastar menos! E mais, que criem pequenos hábitos de
poupança que lhes permita, ao longo do ano, ir enchendo o
"mealheiro".
Não posso deixar de referir que fizemos
questão de incluir em todas as partes do livro histórias e dicas relativas aos
momentos de lazer. É possível fazer todo o tipo de programas para ocupar os
tempos livres sem ter de pagar por isso. Divertirmo-nos e passarmos tempo de
qualidade é importante.
FC- É exatamente o que a Rita disse.
Nesta altura e não tenhamos ilusões, há pessoas que estão de tal forma sobre
endividadas, porque ficaram sem emprego e sem forma de fazer face às suas
responsabilidades que essas, não tem sequer margem para poupar. Mas as outras sejam
pessoas que ganhem o ordenado mínimo, ou 1000 ou 3000 euros por mês, todas têm
de passar a viver com menos do que estavam habituadas. A subida do IRS, a
sobretaxas e até em alguns casos, os cortes nos ordenados que algumas empresas
foram obrigadas a fazer fazem com que as pessoas tenham muito menos dinheiro
disponível. Se este livro ajudar as pessoas a repensar o seu modo de vida e as
fizer pensar que é possível viver bem com menos, que reciclar e reutilizar é
também uma forma de poupar, então o objetivo deste livro foi cumprido. E de
notar que é um livro económico, até porque o preço dele nunca poderia fugir ao
conceito.
E a televisão, de que modo influencia o modo de vida da população?
RR - Para o espetador, a televisão tem o
papel de informar e entreter. "Está lá" como algo que não
questionamos, como se fizesse parte da casa e da família. Para a maioria é um
"complemento" ao dia a dia, mas não posso deixar de lembrar que para
muitas pessoas é a única companhia ao longo de dias inteiros. Foi graças aos
anos de trabalho nos programas do "daytime" que tivemos noção
disto...
FC – A televisão influência e muito o
modo de vida da população. Penso que cada vez mais. E como a Rita referiu para
muitas pessoas a única companhia e, claro que para outras tantas continua a ser
o mundo inalcançável o sonho… A população acaba por ser influenciada pelo bom e
pelo mau da televisão…
Mas penso atualmente essa influencia tem
mais lados bons que maus. Continua a ser a “caixinha mágica”, a única forma de
a informação chegar a muitos locais onde outrora não chegava. Além disso
entretém e faz companhia. A televisão também evoluiu muito e as pessoas têm
acesso a mais canais e isso é bom. A televisão hoje em dia é feita também pelas
pessoas. Afinal são elas que têm o comando na mão…
Para terminar, deixem uma mensagem para os nossos leitores.
RR - É possível poupar sem comprometer a
qualidade de vida. Os momentos e as coisas mais simples vão ganhar outro valor
e outro sabor. Um presente feito com carinho vale um milhão. Há mil e uma
formas de proporcionar um dia da criança inesquecível aos seus filhos sem
gastar um tostão. Centenas de maneiras de reaproveitar e reutilizar. Por isso,
não deixem que a crise belisque o prazer e a alegria de viver.
FC – A principal mensagem é tentar olhar
para as coisas para a vida como se fosse o copo “meio cheio”. As coisas estão
difíceis, há uma crise, isso é um facto. Mas, há que tentar dar a volta e
pensar de uma forma positiva. Por exemplo…Não podemos fazer aquela viagem de
sonho é certo. Mas se em vez de ficarmos frustrados, tentarmos viver de acordo
com as nossas possibilidades e disfrutarmos do que realmente é importante na
nossa vida as coisas serão ultrapassadas mais facilmente. Se calhar há que
voltar a ganhar alguns hábitos, voltar a viver mais em família, voltar a dar
valor às pequenas coisas. E aprendermos que é possível viver bem, gastando
menos e sem comprometer a qualidade de vida. Sou contra aquelas vozes que dizem
que temos todos de empobrecer. Não concordo nada com isso, nem acredito que o
caminho seja por ai…. Mas tenho esperança que tudo melhore e já que temos todos
que viver com menos. E já que isso é uma realidade, então vamos tentar fazer
tudo o que gostamos de uma forma mais económica.
Obrigada Fátima Caetano, Rita Rebelo e Matéria-Prima Edições.
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