domingo, 27 de janeiro de 2013

[À Lareira com] - Joaquim Fernandes






À Lareira com...Joaquim Fernandes, autor do livro "História Prodigiosa de Portugal:Mitos e maravilhas".

Fale-nos um pouco sobre si 
Sou um portuense de gema – desde o ovo… - e fui despertando em mim a curiosidade de saber mais, de me interrogar sobre as grandes questões do cosmos, da aventura humana neste espaço e neste planeta que ocupamos como membros da família solar. Sou um idealista que gosta de antecipar os futuros – mais do que o Futuro – e daí o meu apego à poesia e à ficção científica, por exemplo. Apaixono-me facilmente pelas incertezas e mistérios e detesto respostas fáceis e eternas. Se recuso os dogmas de toda a espécie é porque eles não parte da minha estrutura genética, ainda que por educação tenha sido no cumprimento de normas rígidas e credos absolutos. Fui-me libertando dessas amarras pela análise da História e dos seus agentes, percursos e encruzilhadas.    

  
É professor na Universidade Fernando Pessoa. O que é mais gratificante para si em dar aulas na universidade?
A experiência docente é gratificante porque sempre quis partilhar as minhas aquisições e expor as minhas dúvidas e inquietações com os outros. Nesse sentido, é uma missão que valoriza quem transmite ideias ao mesmo tempo que se vai testando a eficácia da mensagem que tentamos emitir.  

É Co-Fundador do CTEC. O que é o CTEC e como surgiu a oportunidade de fundar este centro?
O projeto concretizou-se há mais de uma década por obra de um patrocínio exemplar do responsável máximo da Universidade Fernando Pessoa, o professor Salvato Trigo. O CTEC tentou ser uma inovação útil, necessária ao confronto de novas hipóteses científicas abdicando da comodidade das certezas adquiridas e rompendo com preconceitos consolidados na Academia portuguesa. Colóquios e encontros descomprometidos geraram ao longo deste tempo um conjunto de respostas positivas e uma avaliação de novos problemas que foram surgindo nas últimas décadas e que têm a ver com o progresso dos saberes.  

É licenciado em História, mestre em História Moderna e doutorou-se em História. Quando é que o seu gosto pela História despertou?
Desde cedo me seduziram os recantos mais sombrios da História, as encruzilhadas menos frequentadas e os lugares mais soturnos e menos frequentados da nossa vivência comum. Os largos espaços cósmicos assediaram a minha atenção e cuidado, e assim me vi ocupado, desde finais da década de 1970, em discernir os arroubos extraterrenos do imaginário dos concidadãos de olhos nas estrelas e corpo aqui na terra. Passagem obrigatória em Fátima, 1917, estação de trânsito dos mais ousados sonhos de ligação ao Céu, com maiúsculas, ponte para outras indagações com o mesmo sentido, mas em escala mais astronómica e menos religiosa e popular-mariana. Daí em diante, contaminado com a febre das estantes, das velhas crónicas e periódicos bafientos, instalei-me como monge copista nas sombras das bibliotecas. De vidas de santos e santas rotulados de virtudes na vida e na morte, dos repertórios dos hagiológios setecentistas, fiz dissertação de mestrado; em imparável sucessão de leituras indaguei os caminhos da formação do imaginário extraterrestre nas nossas elites culturais, desde o fim da Modernidade até meados do século XIX e vi-me desembocar num doutoramento original, estreia europeia nos domínios da História. Entre céus menores, mais próximos do nosso alcance, não menos distantes dos nossos medos e pavores. 

Tem vários livros publicados, sendo o mais recente “História Prodigiosa de Portugal: mitos e maravilhas”. Em que consiste o livro e como surgiu a oportunidade para o escrever?
Para lá das narrativas dos factos políticos e económico-sociais, resta todo um edifício de questões, mais ou menos subterrâneas geralmente omitidas pelos compêndios da nossa historiografia. A forma mental de toda esta construção emerge, agora, como um icebergue do qual apreciamos apenas a porção visível: donde, o arrolamento de credos, atitudes, superstições e construções mentais que depositei na “História Prodigiosa de Portugal. Mitos & Maravilhas”, primeiro lanço de um edifício que prosseguirá nos meus próximos planos. Fui-me fazendo, deste modo, observador de atitudes mentais, de estereótipos psicológicos e sociais que, diante do extraordinário, do fantástico, do prodigioso, nos tem mantido nesta infância sensorial e interpretativa dos que não compreendemos Já antes, o fabuloso terror planetário, fatalmente nacional, produzido pela passagem do cometa de Halley, em 1910, motivara o meu interesse: assim lhe chamei o “Cometa da República” por anteceder em poucos meses a data do 5 de Outubro desse ano. 

Tem, actualmente, algum projecto literário em mãos? Se sim, pode falar-nos um pouco sobre ele?
No imediato tenho em curso a elaboração do 2º volume da “História Prodigiosa de Portugal”, com o subtítulo “Magias & Mistérios”, que sairá em finais de 2013.

Tem alguma rotina de escrita?
Sou um pouco imprevisível nos meus ritmos. Depende do estado das minhas investigações e dos materiais de que disponho e julgo indispensáveis à elaboração do texto. Faço-o geralmente sob pressão à conta dos prazos que estipulei para apresentar a obra. 

Gosta de ler?
Sou um livro-dependente, tanto na leitura como na sua posse. A busca de leituras inacabadas ou nunca realizadas conduzem-me por longos períodos para as bibliotecas porque é na revisão e descoberta da literatura histórica que me reveja melhor. 

Diga-nos pff um dos seus autores preferidos e um dos livros que considere como dos melhores livros que já leu.
Para mim Fernando Pessoa – e os seus heterónimos - esgota todas as possibilidades de criação e recriação. Um dos mais exaltantes e desafiadores textos é o seu “Livro do Desassossego”.

Tem outros Hobbies? Quais?
Ouvir música, clássica e jazz, fazer exercício físico com regularidades.

O que é mais gratificante para si, como escritor?
Levar a minha mensagem a públicos que a não conheçam, fazendo-os cúmplices das minhas inquietações ou desassossegos, parafraseando Bernardo Soares/Fernando Pessoa. 

Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Teimem em não desistir, em proclamar a dúvida, a incerteza, como ponto de partida da condição humana, acidente em trânsito de uma manifestação da Vida que será muito provavelmente uma constante nessa vastidão a que chamamos Infinito.
 


1 comentário:

  1. Boa noite.
    Não é nenhum vírus é apenas uma imagem feita por um fã. Se lhe parecer adequada e quiser usá-la esteja à vontade. A mim pareceu-me. Continuação de bom trabalho.

    Imagem: http://img200.imageshack.us/img200/7218/tl4v.png

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