À Lareira com...Joaquim Fernandes, autor do livro "História Prodigiosa de Portugal:Mitos e maravilhas".
Fale-nos um pouco sobre si
Sou um portuense de gema – desde o ovo… - e fui despertando em mim a curiosidade de saber mais, de me interrogar sobre as grandes questões do cosmos, da aventura humana neste espaço e neste planeta que ocupamos como membros da família solar. Sou um idealista que gosta de antecipar os futuros – mais do que o Futuro – e daí o meu apego à poesia e à ficção científica, por exemplo. Apaixono-me facilmente pelas incertezas e mistérios e detesto respostas fáceis e eternas. Se recuso os dogmas de toda a espécie é porque eles não parte da minha estrutura genética, ainda que por educação tenha sido no cumprimento de normas rígidas e credos absolutos. Fui-me libertando dessas amarras pela análise da História e dos seus agentes, percursos e encruzilhadas.
É professor na Universidade Fernando Pessoa. O que é mais
gratificante para si em dar aulas na universidade?
A experiência docente é
gratificante porque sempre quis partilhar as minhas aquisições e expor as
minhas dúvidas e inquietações com os outros. Nesse sentido, é uma missão que
valoriza quem transmite ideias ao mesmo tempo que se vai testando a eficácia da
mensagem que tentamos emitir.
É Co-Fundador do CTEC. O que é o CTEC e como surgiu a
oportunidade de fundar este centro?
O projeto concretizou-se há
mais de uma década por obra de um patrocínio exemplar do responsável máximo da
Universidade Fernando Pessoa, o professor Salvato Trigo. O CTEC tentou ser uma
inovação útil, necessária ao confronto de novas hipóteses científicas abdicando
da comodidade das certezas adquiridas e rompendo com preconceitos consolidados
na Academia portuguesa. Colóquios e encontros descomprometidos geraram ao longo
deste tempo um conjunto de respostas positivas e uma avaliação de novos problemas
que foram surgindo nas últimas décadas e que têm a ver com o progresso dos
saberes.
É licenciado em História, mestre em História Moderna e
doutorou-se em História. Quando é que o seu gosto pela História despertou?
Desde cedo me seduziram os
recantos mais sombrios da História, as encruzilhadas menos frequentadas e os
lugares mais soturnos e menos frequentados da nossa vivência comum. Os largos
espaços cósmicos assediaram a minha atenção e cuidado, e assim me vi ocupado,
desde finais da década de 1970, em discernir os arroubos extraterrenos do
imaginário dos concidadãos de olhos nas estrelas e corpo aqui na terra.
Passagem obrigatória em Fátima, 1917, estação de trânsito dos mais ousados
sonhos de ligação ao Céu, com maiúsculas, ponte para outras indagações com o
mesmo sentido, mas em escala mais astronómica e menos religiosa e
popular-mariana. Daí em diante, contaminado com a febre das estantes, das
velhas crónicas e periódicos bafientos, instalei-me como monge copista nas
sombras das bibliotecas. De vidas de santos e santas rotulados de virtudes na
vida e na morte, dos repertórios dos hagiológios setecentistas, fiz dissertação
de mestrado; em imparável sucessão de leituras indaguei os caminhos da formação
do imaginário extraterrestre nas nossas elites culturais, desde o fim da
Modernidade até meados do século XIX e vi-me desembocar num doutoramento
original, estreia europeia nos domínios da História. Entre céus menores, mais
próximos do nosso alcance, não menos distantes dos nossos medos e pavores.
Tem vários livros publicados, sendo o mais recente
“História Prodigiosa de Portugal: mitos e maravilhas”. Em que consiste o livro
e como surgiu a oportunidade para o escrever?
Para lá das narrativas dos
factos políticos e económico-sociais, resta todo um edifício de questões, mais
ou menos subterrâneas geralmente omitidas pelos compêndios da nossa
historiografia. A forma mental de toda esta construção emerge, agora, como um
icebergue do qual apreciamos apenas a porção visível: donde, o arrolamento de
credos, atitudes, superstições e construções mentais que depositei na “História
Prodigiosa de Portugal. Mitos & Maravilhas”, primeiro lanço de um edifício
que prosseguirá nos meus próximos planos. Fui-me fazendo, deste modo,
observador de atitudes mentais, de estereótipos psicológicos e sociais que,
diante do extraordinário, do fantástico, do prodigioso, nos tem mantido nesta
infância sensorial e interpretativa dos que não compreendemos Já antes, o
fabuloso terror planetário, fatalmente nacional, produzido pela passagem do
cometa de Halley, em 1910, motivara o meu interesse: assim lhe chamei o “Cometa
da República” por anteceder em poucos meses a data do 5 de Outubro desse ano.
Tem, actualmente, algum projecto literário em mãos? Se
sim, pode falar-nos um pouco sobre ele?
No imediato tenho em curso a elaboração do 2º volume da
“História Prodigiosa de Portugal”, com o subtítulo “Magias & Mistérios”,
que sairá em finais de 2013.
Tem alguma rotina de escrita?
Sou um pouco imprevisível nos
meus ritmos. Depende do estado das minhas investigações e dos materiais de que
disponho e julgo indispensáveis à elaboração do texto. Faço-o geralmente sob
pressão à conta dos prazos que estipulei para apresentar a obra.
Gosta de ler?
Sou um livro-dependente,
tanto na leitura como na sua posse. A busca de leituras inacabadas ou nunca
realizadas conduzem-me por longos períodos para as bibliotecas porque é na
revisão e descoberta da literatura histórica que me reveja melhor.
Diga-nos pff um dos seus autores preferidos e um dos
livros que considere como dos melhores livros que já leu.
Para mim Fernando Pessoa – e
os seus heterónimos - esgota todas as possibilidades de criação e recriação. Um
dos mais exaltantes e desafiadores textos é o seu “Livro do Desassossego”.
Tem outros Hobbies? Quais?
Ouvir música, clássica e jazz, fazer exercício físico com
regularidades.
O que é mais gratificante para si, como escritor?
Levar a minha mensagem a
públicos que a não conheçam, fazendo-os cúmplices das minhas inquietações ou
desassossegos, parafraseando Bernardo Soares/Fernando Pessoa.
Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Teimem em não desistir, em
proclamar a dúvida, a incerteza, como ponto de partida da condição humana,
acidente em trânsito de uma manifestação da Vida que será muito provavelmente
uma constante nessa vastidão a que chamamos Infinito.
Boa noite.
ResponderEliminarNão é nenhum vírus é apenas uma imagem feita por um fã. Se lhe parecer adequada e quiser usá-la esteja à vontade. A mim pareceu-me. Continuação de bom trabalho.
Imagem: http://img200.imageshack.us/img200/7218/tl4v.png