domingo, 2 de setembro de 2012

[À Lareira com...] - Joel Gomes






À Lareira com...Joel Gomes, autor de "Um cappuccino vermelho".





Fale-nos um pouco sobre si
Esta é uma pergunta muito má para se começar, sem ofensa, porque é difícil escolher que aspectos destacar. De mim como pessoa, não tenho muito a dizer. Não é que não haja nada, apenas acho que não me compete a mim falar sobre isso. Sei o que as pessoas dizem (as mais simpáticas, as outras eu faço de conta que não existem), mas repetir aqui as suas palavras roçaria o narcisismo.
Sobre mim, em termos profissionais, já aprendi muito, mas ainda tenho muito que aprender.

“Lê desde que aprendeu”. Diga-nos um dos seus livros preferidos. E qual é a sua leitura de cabeceira neste momento?
A pergunta dos livros preferidos é tramada. Porque nunca existe só um. Os livros são perfeitos ou não consoante o nosso estado de espírito. Pelas minhas contas, devo ter uns dez ou vinte favoritos. Vou dar como exemplo, foi um favorito na altura e continua a ser, “The Poet”, de Michael Connelly. Penso que estará editado em português pela Círculo de Leitores. Foi o primeiro livro que li desse autor e é uma história densa, absorvente e complexa. Enfim, o ideal para desanuviar.
Eu não possuo mesa de cabeceira, mas possuo um recanto (que mal que isto soa) numa estante que faz as vezes dessa peça de mobiliário. Presentemente abriga o romance “Lost Light”, também de Michael Connelly; estou também a ler (ou prestes a começar) “Não Fomos Nós Dois”, de Tiago Gonçalves. O Tiago foi um autor a quem lancei o desafio de trocarmos livros e opiniões. Ele já leu o meu, já opinou, agora falto eu.

“escreve desde que uma professora de Português o desafiou a escrever uma história de duas páginas. Entregou-lhe um maço de 18 páginas com direito a duas sequelas.” O que nos pode contar sobre essa história?
Era uma salganhada impublicável. Não só porque era uma salganhada, mas porque estava pejada de plágios atrás de plágios. Eu tinha 10 ou 11 anos, sabia lá eu o que era isso. Lia banda desenhada com fartura (Marvel, DC, Krypta, Sobrenatural, Tex, Tio Patinhas, Recruta Zero, por aí fora) e estas histórias iam buscar ideias a tudo isso. A ideia geral foi toda a minha, mas depois faltava-me algo para complementar e ia buscar um pedacinho aqui, um pedacinho ali. Comecei a escrever o terceiro volume, só que nunca cheguei a terminá-lo. Ainda tenho isso guardado. Pode ser que um dia decida pegar nisso e ver se é possível aproveitar alguma coisa.

Publicou este ano o seu primeiro romance, “Um cappuccino vermelho”, como e quando surgiu a ideia para este livro?
A génese da ideia remota a meados de 2001. Que foi quando comecei a pensar em escrever um livro. Meses depois, já em 2002, andava com a ideia à deriva pela mente, sem que esta fizesse algum sentido, quando me cruzei com uma rapariga. Ainda hoje não consigo explicar o que aconteceu. Sei que olhei para ela durante alguns segundos e a ideia do livro tornou-se clara.

Quais as principais dificuldades que sentiu até ver o seu livro publicado?
Foi menos difícil do que eu julgava. Visto desta distância, só demorou o tempo que demorou porque não sabia como é que as coisas se processavam. É possível que também tenha empatado um pouco. De qualquer modo, o difícil não é publicar, é divulgar. Para publicar basta enviar o livro para a gráfica, para divulgar é preciso ir aos sítios, conversar com as pessoas, ter paciência. É um trabalho moroso, mas quando compensa, vale a pena o esforço.

De momento está a rever o seu segundo romance. O que nos pode revelar sobre ele?
“A Imagem” será uma espécie de sequela de “Um Cappuccino Vermelho”. Eu uso o termo espécie porque o foco vai deixar de estar em Ricardo e João, os protagonistas do primeiro livro, e vai passar a estar em Lucas. A história começa quando o Lucas depara-se com uma imagem surgida do nada. O Lucas é alguém com um passado muito obscuro e essa imagem é o ponto de partida para forçá-lo a lidar com os seus problemas.
É uma história complexa porque envolve muitos personagens, cada um deles com os seus próprios objectivos, e a intenção é dar o devido destaque a cada um.

E está também a escrever o terceiro livro. Já nos pode contar alguma coisa sobre esse?
A escrita d'“A Voz” tem estado parada devido às revisões d' “A Imagem” e outros afazeres. Em traços gerais, irá contar a história de Telma, uma jovem viúva que percebe que a morte do marido poderá não ter sido tão acidental quanto se julga ao descobrir uma mensagem, escrita por ele anos antes da sua morte, a prever o momento do seu falecimento.
Será o livro que irá fechar a trilogia de “Um Cappuccino Vermelho” e, tal como “A Imagem”, também será uma espécie de sequela. A história de “A Voz” terá influência directa em eventos de “Um Cappuccino Vermelho” e de “A Imagem”, com alguns dos seus personagens a participarem em algumas cenas, mas será uma história independente.

Para além dos livros, trabalha também com curtas e longas-metragens. Qual a sua primeira
curta-metragem e como começou com este trabalho?
A minha primeira curta-metragem chamou-se “O Atraso”. Apresentei-a ao David Rebordão, que conhecera meses antes num workshop de escrita criativa com a Margarida Fonseca Santos. Ele já tinha uma ideia do que eu gostava de escrever e fizera-me a proposta de escrever qualquer coisa para ele realizar. Escrevi “O Atraso”, baseado em nuances da minha vida profissional e outras idiotices, ele gostou da ideia e fizemos o filme. Houve alguns momentos complicados, mas tivemos a sorte de contar com dois grandes actores a custo zero, o jovem e promissor Tiago Castro e o grande e ido Canto e Castro.

Tem ainda uma série denominada “lendas em série”. Em que consiste e como surgiu a ideia?
A ideia da série partiu também do David Rebordão e foi uma coincidência dos diabos. Ele andava a ler um livro sobre lendas de Portugal, eu andava a coleccionar uma série em fascículos também sobre lendas portuguesas que o DN tinha na altura. Calhou ser ele o primeiro a apresentar a proposta. A ideia era escolher treze lendas que tivessem um forte ambiente sobrenatural e adaptá-las aos nossos dias. Escrevemos os treze episódios, cada um com 25 minutos, chegámos a ir à RTP e a várias produtoras. Houve interesse em vários casos, mas interesse sem investimento é o mesmo que nada.

É autor dos blogues “Angulo obtuso” e “protuberância”. O que podemos encontrar por lá?
O blogue “Protuberância” encerrou este ano. Esteve em funcionamento durante seis anos e lá publiquei essencialmente artigos de opinião e uma ou outra coisa estranha. A partir de 2010, altura em que comecei a escrever para jornais, passei a ter mais cuidado com o que escrevia. Mais cuidado no sentido em que já não tinha tempo para palhaçadas; a não ser, é claro, aquelas que escrevia.
Adorava escrever para esse blogue. O problema era que esse blogue tinha uma imagem muito... abandalhada, vá; o que dificultava a inclusão de outro tipo de trabalhos de cariz menos cómico.
O “ângulo obtuso” surgiu como forma de resolver isto, conciliando os meus vários públicos. Foi uma forma de recomeçar: há espaço para artigos de humor, há espaço para artigos mais sérios, há espaço para divulgação dos meus outros projectos. Em relação aos artigos, impus-me uma periodicidade fixa para habituar o leitor a ter pelo menos dois artigos novos todas as semanas, um à quarta-feira e outro ao Domingo.

Como concilia todos estes trabalhos e, claro, a sua vida pessoal?
Não sei. Isto acaba por ser vida pessoal também. O truque é saber conciliar. Por exemplo, eu não consigo escrever um artigo e depois saltar para um capítulo de livro e depois para outro artigo. Mesmo que consiga, não fica nada de jeito. O que eu consigo e faço é estar um dia ou dois só a escrever artigos. Como só publico dois por semana, se escrever oito, por exemplo, fica com quatro semanas livres para me dedicar a outro projecto. Neste momento estou de férias, por isso tenho todo o tempo livre. Trabalho bem a qualquer hora, dependendo do ambiente à minha volta. Se estiver muita confusão à minha volta, começo-me a distrair com as vozes e farto-me de vilipediar e insultar  os presentes. Seria mais fácil mudar de sítio, mas às vezes sou acometido de preguiça.

O que a escrita significa para si?
Quando podemos fazer as coisas à nossa vontade, quando apenas temos o objectivo de fazer dela o nosso modo de vida, é um prazer; quando ela é o nosso modo de vida, o nosso ganha-pão, é uma profissão. Embora não deixe de ser um prazer à mesma.

Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
A minha mensagem é a seguinte: Margarida, por favor recomenda o meu livro aos leitores do teu blogue porque parece mal ser eu a fazê-lo. Ah! Diz-lhes também que são leitores espectaculares. Do melhor que já tenho visto em todo o ciberespaço. Têm os avatares mais bonitos e também os mais limpinhos de todos. Bem haja!

Obrigada Joel

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