quarta-feira, 4 de julho de 2012

[Opinões Tertulianas] - "E de repente, um anjo" de Jaime Bayly




"Pela primeira vez em muitos anos, sinto que não odeio o meu pai. devo esta sensação de alívio a Mercedes. se o destino não a tivesso colocado no meu caminho, não estaria aqui, não teria podido dizer aquelas palavras que vieram da infância e eliminaram o veneno subtil que é o rancor." (excerto)







Devemos perdoar quem nos magoou profundamente, nos negligenciou ou pior ainda, podemos perdoar uma mãe que vende a filha?

Este livro aborda duma forma absolutamente original a questão do perdão.
Sem apelar a lágrimas e como imenso humor à mistura, o autor conta-nos uma história sobre o perdão recorrendo a duas personagens fantásticas, Julián Beltrán e a sua empregada doméstica Mercedes, a história duma amizade improvável.
 Não posso no entanto deixar de mencionar três  personagens que embora pequenas conseguem em poucas páginas fazer-nos rir a bom rir, a suposta mãe de Mercedes, Petronila Navarro Chuquipiondo, o major Julio Concha Fina e a ex-patroa de Mercedes, Senhora Dona Luz Clarita. Cada vez que me lembro dos diálogos onde intervéem estas personagens, não consigo fazê-lo sem me rir às gargalhadas!

Mas dizia eu que nesta história se fala de perdão... Um tema à partida fácil pois temos como pressuposto que há coisas imperdoáveis especialmente vindas de quem nos é próximo e que é suposto amar-nos e proteger-nos incondicionalmente. Mas será mesmo assim? É possível perdoar e seguir em frente? Ou nem por isso?

Julián não perdoa ao pai o facto de este lhe ter “roubado” a herança do avô, a sua irmã que também foi lesada ainda lhe perdoa menos pois por ele foi abusada sexualmente e Mercedes que foi vendida pela sua mãe quando era criança perdoa-lhe e o que quer mesmo é tratar dela até ao fim da sua vida... Como é fácil para uns perdoar ofensas graves e para outros é tão difícil!

“- Zangámo-mos por questões de dinheiro – digo
Mercedes fica séria, pensativa.
- Por dinheiro – diz – Tem graça, mas os senhores, os ricos, andam sempre a brigar uns com os outros por dinheiro.Têm dinheiro, mas brigam na mesma. Nós, os pobres, não brigamos por dinheiro, porque não temos, é só isso.”

“Pela primeira vez em muitos anos, sinto que não odeio o meu pai. Devo esta sensação de alívio a Mercedes. Se o destino não a tivesse colocado no meu caminho, não estaria aqui, não teria podido dizer aquelas palavras que vieram da infância e eliminaram o veneno subtil que é o rancor.”

Que dizer mais deste livro e deste autor peruano (mas que vive nos Estados Unidos) que nos consegue arrancar gargalhadas no meio duma tragédia?  Posso dizer que é um livro fantástico e que simplesmente nos “enche as medidas”!
Uma história que nos faz ponderar sobre sentimentos, reencontros, amor, amizade e perdão.

Um livro excelente!

Teresa Carvalho

1 comentário:

  1. Obrigado por estas palavras lindas que estao dentro deste magnifico livro, na qual me foi util durante 4 meses e meio que passei feixado num cela no UK, ele me encentivou a realmente saber usar a palavra perdao, thanks you

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