domingo, 4 de março de 2012

[À Lareira Com] - Casimiro Teixeira autor de "Governo Sombra"

Bom Domingo Tertulianas (os). Como não podia deixar de ser, hoje trago-vos mais uma "conversa à lareira". Desta vez o convidado é Casimiro Teixeira, autor do livro "Governo Sombra" do qual já devem ter ouvido falar.



À Lareira com... Casimiro Teixeira, autor do Livro "Governo Sombra":

Casimiro Teixeira, "nortenho de gema, e amante profundo das suas raízes, sobretudo da cidade que o viu nascer: Vila do Conde. Desde cedo demonstrou inclinações para as letras, publicando alguns textos numa revista editada pelo departamento de Filosofia do seu liceu, e criando assim um espaço interior inteiramente dedicado à escrita que foi sempre para si, um ombro amigo onde podia chorar as suas mágoas, ou divertir-se, extravasando a sua felicidade. Foi na escrita que se moldou como homem, e nunca a abandonou, apesar de não ter, até à data, tido coragem para expor algum dos seus trabalhos ao público, deixando que estes se fossem acumulando em resmas de papéis guardados em gavetas..
Desabrochou finalmente em 2011, publicando pela Corpos Editora, o livro de Poesia: "Poemas por Tudo e por Nada" e o empolgante Romance de Ficção: "Governo Sombra" com a chancela da Chiado Editora. Tem igualmente, disponível no sítio da Bubok, em edição de autor, um conto intitulado; "Há Procura de uma Vida” e uma novela “Corre!”, tendo também participado nas colectâneas de autores: “Gêmea – Vol.II” da editora brasileira Beco dos Poetas e escritores e “Novos Contos de Natal, Vol.I” das Edições Vieira da Silva. E também na Antologia de Poesia Contemporânea "Entre o Sono e o Sonho" Vol. III, edição da Chiado Editora, com o poema “Alma Doente”.
Incansável no seu gosto pela escrita, nos seus diversos estilos: Poesia, Romance, Novela e Conto, tem diferentes trabalhos investidos em concursos literários, tendo já sido galardoado com uma menção honrosa no I Concurso Literário “Ser Solidário”, organizado pelo serviço de Humanização do Hospital de S. João do Porto, com o conto: “O Fim da Noite
Define-se como um escritor estilizado nos moldes de um realismo mágico, de histórias de solidão e deslumbramento – fazendo-se acompanhar em cada uma das suas narrativas, por alguns dos seus companheiros mais frequentes: o amor, o poder e a morte. Munido dessa grande paixão, publica quase diariamente no seu blog pessoal: http://neomiro.blogspot.com - O Mundo de acordo com Miro, textos dos mais diversos géneros, assim como na sua página de fãs do Facebook, que actualiza constantemente, e igualmente em diversas outras páginas e blogs de poesia e contos."

O Casimiro afirma, no seu blogue pessoal, que “Foi na escrita que se moldou como homem”. O que a escrita significa para si?

Antes de mais, impõe-se transmitir-lhe os meus mais calorosos agradecimentos, pela oportunidade de divulgação, prestada através desta entrevista, fico muito honrado com isso. Para lhe responder, terei de recuar alguns anos, quando era um rapazote ainda, quando comecei a interessar-me a sério pela nossa língua. Somos tão afortunados por termos a língua que temos, tão rica, tão cheia de pequenas maravilhas cativantes, de lirismo musical, de exuberância, e foi exactamente por essa altura, nos meus tempos de liceu, que me emaranhei a sério na descoberta desses deslumbres, com a ajuda providencial de um par de professores, que, não sei, talvez porque tenham pressentido neste garoto tímido, uma vocação que nem eu sabia ainda existir, empenharam-se em ma incentivar. Por isso digo que foi na escrita que me moldei como homem, pois, na passagem para a idade adulta a escrita acompanhou-me sempre, e cresceu enquanto eu também crescia, tornando-se quase uma força motriz na minha evolução enquanto indivíduo. Seria de todo impossível, então, como agora, e digo-o despido de qualquer pretensiosismo, viver um dia que seja sem escrever. É o meu tónico diário, o meu escape, a minha vivência inteira.

Quando começou a escrever?

Suponho que a resposta anterior, já esboça um pouco esta, mas elaboro. Comecei a escrever, a sério, com aquela vontade indefectível de sonhar acordado, que todos temos quando somos jovens, teria eu 14 ou 15 anos. Gostava daquilo, e hoje ainda gosto mais, porque a escrita tem esse condão, agarra-nos com força, e, jamais permiti-mos que ela nos largue depois. Nunca parei de escrever, aliás, não faço tenções disso.  Logo que a cabeça funcione com perfeito juízo e que a artrite não me ataque os dedos, continuarei. Talvez escreva menos agora, do que escrevia nessa altura, mas, também, já estou mais maduro, mais seguro daquilo que quero dizer, e poupo um pouco mais as palavras, com medo de as gastar.

Apenas em 2011 editou os seus livros. Porquê apenas em 2011?

Foi o desemprego quem me ditou essa vontade, estranhamente. Ou talvez não. Nos finais de 2010 fiquei desempregado, livre sem querer, daquele jugo da obrigatoriedade de trabalhar. E, de certo modo, essa liberdade toda, fez-me perceber que a função maior do homem é ser produtivo, a apatia e o ócio, tornam-nos em pessoas piores, desprovidas de propósito. Então, ocorreu-me a descoberta da pólvora, por assim dizer. Se preciso de trilhar um bom caminho nesta vida, um caminho produtivo, porque não faze-lo através daquilo que mais gosto: escrever! - Abri as gavetas e desempoeirei os contos e os poemas que haviam estado ali guardados por tantos anos, e, arrisquei. A escrita é isso mesmo, um risco total, mas é um risco que vale a pena. É como o risco de se viver, só compensa se for feito assim.

Os livros que escreveu são de dois géneros bastante diferentes, bem como os contos e restantes textos que publica. Pode, no entanto, dizer que tem algum género preferido?

Não tenho. Confesso que não. Não gosto dessa prisão pré-definida, do enquadramento taxativo num género em particular. Detesto rótulos. O que me cativa sobretudo, é a liberdade de acção que a escrita me concede, aquele desprendimento absoluto que a ficção nos permite. É claro que, está sempre em causa o compromisso assumido com os leitores, e a liberdade ficcional necessita de ser sempre bem fundamentada na própria realidade que tentamos transmitir. O leitor é o nosso último e decisivo barómetro, e não o podemos decepcionar, mas, não me restringirei nunca a algum género definido para isso, apenas me esforçarei para escrever sempre mais e melhor, de maneira a que possa merecer a sua confiança e fidelidade. Escrever é, só por si, um complexo universo onde o homem define e se define, não deve nunca estar restringida a moldes pré-fabricados. Cada um de nós tem as suas próprias vivências, difíceis algumas, outras, extraordinárias. E o milagre da vida expande-se exponencialmente quando alguns de nós tentam, da melhor forma que sabem, explicar esse milagre através da escrita. É penoso, eu sei, mas, tão, tão maravilhoso poder faze-lo.

O que a poesia significa para si e como ela se enquadra na sua vida?

A poesia é a minha mãe. Eu não sou um escritor, sou um poeta, eu quero ser um poeta, mas sei que a poesia é madrasta, não nos amamenta como queremos, é aquela expressão pobre da literatura, que muito embora seja tão bem vista por constituir a maior e melhor definição do conceito lusófono de literatura, continua sempre a ser preterida, a ser colocada em terceiro e último lugar no pedestal da nossa cultura literária. O romance vence sempre. Assume-se quase sempre como o paladino da nossa literatura. Tomemos Saramago como exemplo, o nosso prémio Nobel. Saramago não escrevia poesia, ou se escrevia, não foi por ela que ficou conhecido. Porquê que nenhum dos nossos grandes expoentes máximos da literatura poética alguma vez chegou a esse patamar de consagração? - Porque a poesia é bem tida mas não é bem querida. Os leitores orgulham-se de partilharem a nacionalidade com vultos como: Pessoa, Cesário Verde, Florbela Espanca, Camões, mas não lêem verdadeiramente a poesia, ou se o fazem, não o admitem, apenas se orgulham dela existir, e de ser fruto da nossa tradição nacional. Continuarei a escreve-la, como de facto também o farei com a prosa, mas conheço a relevância da sua expressão, sei bem sobre a importância do seu impacto. A poesia é tida como coisa de intelectuais, de afectados grotescos, sem grande valor. A poesia é fácil, assim a definem. Não é. Porque é, e sempre será, a forma mais perfeita de veicular uma ideia, uma emoção, um estado de espírito. A poesia somos nós todos, porque, todos nós somos poetas. Com um raio, somos portugueses, haverá povo mais poeta do que nós?

O livro “Governo Sombra” é Um thriller de conspirações políticas. Em que se inspirou para o escrever?

O Governo Sombra é uma história de pessoas, de duas pessoas em particular, que dão o seu melhor para combaterem este clima de caos. Esta desunificação do mundo. Inspirei-me no que via pelas ruas, pela televisão, nas desgraças e na força deste povo, de todos os povos, em se manterem inabaláveis, face à desagregação do mundo que os constituí. A Europa, especificamente, experimenta agora, um momento de tragédia, que não é singular, excepto pela natureza da agressão. Vivemos uma outra epopeia de guerra mundial, fomentada pela ganância, e este livro, enquadra somente o enredo de duas pessoas tão normais, nesse panorama quase cataclísmico, e a suas tentativas de o resolverem. É uma ficção, mas, todas as histórias ficcionadas, têm a sua base de real. Os dilemas de Pedro Gonçalves e Henrique Lobo, são os mesmos de todos nós. Os meus, os seus, os de todos. Todos somos eles. Foi assim que encarei a crise económica mundial, e desta forma tentei construir a minha própria razão deste flagelo. Cabe a cada um, agora, tirar as suas ilações sobre o que lá é descrito, e assertar a sua própria razão pessoal.

Gosta imenso de escrever. E de ler?

Adoro claro. Ler, muito e com frequência, será sempre o melhor professor de escrita criativa que existe. Uma coisa não se dissocia da outra. Na realidade, não consigo divisar um escritor que não goste de o fazer. É quase inconcebível. Tenho sempre os meus “professores” comigo, entre três e quatro de cada vez, e nunca me canso deles, nunca.

Tem algum livro que considere dos seus preferidos?

Meu Deus, que pergunta tão difícil. Aos livros, trato-os como verdadeiros amigos, amigos e professores, e é sempre complicado evidenciar um em detrimento de todos os outros. No entanto, temos certamente sempre um ou dois que nos são mais especiais. Os nossos melhores amigos; os meus são: “Cem anos de solidão” do Gabriel Garcia Marquez e “O Velho e o Mar” do Hemingway. Duas obras máximas que sempre me acompanham, me aconselham, me ajudam nos momentos piores. Não consigo encontrar melhor definição para um verdadeiro amigo do que esta.

Foi galardoado com uma menção honrosa no I Concurso Literário “Ser Solidário”, organizado pelo serviço de Humanização do Hospital de S. João do Porto, com o conto: “O Fim da Noite”. O que sentiu nesse momento?

Senti-me alegre, mas muito humilde. Fiz e continuo a fazer, uma séria aposta na divulgação do meu trabalho á maior audiência possível, desde o instante em que eu próprio assumi, com total seriedade aquilo que faço. Esse investimento constante passa, obviamente, pelo envio e colocação do mesmo, em quase todos os concursos literários com que me deparo, aqueles onde ainda posso participar. Pois, como em qualquer outra actividade, na escrita, e se calhar ainda mais na escrita, a consagração pública constitui o veículo mais relevante para o progredir de uma carreira. Quer queiramos, quer não, caímos inevitavelmente na busca pelo reconhecimento. São estes inefáveis momentos que nos catapultam, e creio que nem preciso de citar exemplos, pois são descarados, alguns.
Para mim, esta menção honrosa vale o que vale. Não é a grandeza do prémio ou o valor pecuniário do mesmo que nos enaltece, mas somente o reconhecimento. Podia até ser uma menção honrosa atribuída pelo mais insignificante e irreconhecível organismo, o que não é o caso, que ainda assim, teria para mim o mesmo significado: a grande honra de ver o meu trabalho reconhecido e sobressaído. Por isso, foi muito, muito bom te-lo recebido, e guardo o diploma em casa com extremoso carinho. Até o emoldurei e tudo.

O que espera do futuro da sua carreira na escrita?

Não é fácil fazer uma carreira na escrita, sobretudo porque muitos o querem fazer, e o mercado livreiro está quase que saturado de tantos novos autores, não comporta esse manancial de carreiras, e quem o pode censurar por isso? - São editados cerca de quarenta novos livros diariamente em Portugal, é impossível serem todos bons, bons pelo menos, ao ponto de se justificar a simples ideia de que os seus autores possam pensar fazer carreira às custas deles. Quer dizer, poder até podem, mas a mediocridade, mais tarde ou mais cedo acaba por vir ao de cima, e aí, adeus carreira, ou mera perspectiva dela. Eu, inclusivamente, posso até ser um desses. Não penso muito nisso. Não tenho pressa alguma em ter uma carreira, tenho o tempo do meu lado, e o que quero fazer, passa principalmente por me melhorar constantemente como pessoa e como escritor, ou seja, passa por escrever, sempre, e não pensar na escrita como uma carreira, mas sim como um prazer delicioso que me faz levantar da cama todos os dias com vontade. Haverá conceito melhor no mundo?

Está a preparar mais alguma publicação para breve?

Auto-publiquei há pouco tempo uma novela: “Corre!”, que está disponível gratuitamente, em e-book, no sítio da Bubok, ou, em versão impressa no mesmo sítio e também no meu blogue pessoal, e estou neste momento a meio de um novo romance, muito mais pessoal e emotivo que este último, mas, como lhe disse anteriormente, não tenho pressa, e provavelmente nem sequer o vou submeter para publicação durante este ano. Quero trabalha-lo bem, torna-lo o mais perfeito possível, mesmo acreditando que, provavelmente nunca o será. Creio que essa busca individual pelo perfeccionismo atinge-nos a todos. E não estou a falar de escritores, atinge-nos como pessoas, todos, ou muitos de nós, queremos sempre ser melhores, fazer tudo melhor. Faz parte da natureza humana buscar a perfeição. Pessoalmente, só atingindo essa fasquia é que me atreverei novamente a lançar-me nesta aventura da publicação. Até lá, vou fazendo os meus modestos exercícios de escrita no blogue e nas redes sociais, e sinto-me já realizado com isso.

O que pode dizer aos nossos leitores, que são amantes da leitura e da escrita?

Que nunca deixem de ler. A leitura faz-nos recomeçar sempre. Cada novo livro que lemos reinicia-nos como pessoas, adiciona-nos algo. Crescemos nesse percurso e quase inevitavelmente, acabamos sempre por retirar da leitura e englobar em nós próprios um ínfimo pedaço dessa experiência. Será quase como se cada novo livro, depois de lido, fosse um bocadinho de nós que ainda não sabíamos que éramos. Precisávamos de o ler para nos construir, vez após vez, sempre. É, efectivamente, uma coisa extraordinária poder contribuir para a construção de uma pessoa, e é isso que eu sinto sempre que recebo uma opinião de alguém sobre os meus livros. Assim sendo, se for essa a vocação que sentem, se estiverem dispostos a assumir esse risco, vão mais longe, e escrevam também.

Obrigada Casimiro Teixeira.

3 comentários:

  1. Sempre muito interessante o Casimiro! Muito comunicativo aqui pela net!
    Parabéns à anfitriã e ao convidado,
    Beijinhos aos dois
    Teresa Carvalho

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  2. Gostei muito da "conversa à lareira".Muitas felicidades para ambos.

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  3. Adorei ler esta entrevista =)

    Beijinhos

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