domingo, 18 de março de 2012

[À Lareira Com] - Bernardo Tomé, autor do livro "Um Trago de Palavras"

Bom Domingo. Hoje é domingo, ansiosos pelo À Lareira com de hoje?
O nosso convidado hoje é Bernardo Tomé, autor do livro "Um trago de palavras", publicado pela Fonte de Palavras Editora, dia 15 deste Mês.
Vamos conhecê-lo?


À Lareira com...Bernardo Tomé, autor do livro "Um trago de palavras".

O meu nome é Bernardo Tomé tenho 28 anos e nasci em Lisboa. Sou Licenciado em Educação Básica e finalista no Mestrado em Ensino no 1ºCiclo do Ensino Básico. Estou também envolvido no futebol de formação do clube da minha terra: Sporting Clube de Linda-a-Velha.
Sempre escrevi. Desde criança que escrevo, coisas pequenas, histórias diminutas que foram crescendo com os anos e as leituras que fui procurando. E sobretudo aí, nos livros dos outros, primeiro em leituras infantis, banda desenhada e afins. Depois, com a entrada da Filosofia no meu percurso escolar, fui percorrendo algumas correntes filosóficas e os seus defensores. Daí até aos grandes romancistas foi um pequeno passo. Foi-se criando dentro de mim uma ânsia de leitura que perdura e, espero eu, perdurará para sempre.

Vai publicar o livro “Um Trago de Palavras” em Março. Como surgiu a ideia de escrever este livro?

Sim, o livro, o meu primeiro livro será publicado em Março, ainda com o dia exacto por marcar. A ideia não surgiu envolta em grandes mistérios. Felizmente, tive a sorte de vencer um concurso em que o júri era o grande e por acaso um dos meus escritores portugueses favoritos: José Luís Peixoto. Um texto, já antigo, que tinha escrito em memória de um tio que conheci apenas na infância, foi escolhido para ser editado em livro, juntamente com outros 19 outros textos de autores, tal como eu, amadores. Depois de ser um dos vencedores, ganhei uma motivação extra para mostrar o meu trabalho a algumas editoras. Nunca o tinha feito até então. Mas esse “empurrão” serviu para que eu organizasse uma compilação de contos e assim poder enviar para algumas editoras. Entretanto, em apenas uma semana recebi duas propostas de diferentes editoras e acabei por optar pela Fonte da Palavra, a qual me pareceu a mais interessante. Tive uma reunião com o editor, reformulei a estrutura do livro, mantendo o nome original: Um Trago de Palavras.

O que nos pode revelar sobre o seu livro, de modo a deixar-nos ainda mais curiosos?

Não gostaria de revelar muito. Não porque possa estragar a surpresa, antes, porque nem eu sei bem o que dizer sobre o livro. Custa-me imenso afirmar que é um livro de contos, porque para mim são somente histórias, com o fio condutor da minha memória. Mas depois, tendo que caracterizar o tipo de livro que é, tenho mesmo de admitir que é um livro de contos, histórias independentes umas das outras. A frase mais reveladora do que se trata o livro, talvez seja aquela que me paira a cada sono: o livro conta histórias de memórias que aconteceram e de memórias que deviam ter acontecido, em que as palavras atingem uma profundidade poética muito além das metáforas e de todos esses lugares comuns.

O quê ou quem lhe serviu de inspiração durante a escrita de “Um trago de palavras”?

É sempre impossível perceber de onde nascem as palavras dentro. Eu não o entendo. Escrevo. Detesto voltar atrás e corrigir erros por isso mesmo, porque me desfaz a espontaneidade. Talvez a minha escrita tenha uma base concreta dos meus autores favoritos. Talvez sejam as minhas mãos a escreverem o que os meus olhos nunca viram. Talvez tudo o que eu escreva advenha de uma noção estética que sempre me preocupou. As palavras são bonitas de uma certa forma. É isso o que me inspira, o procurar embelezar as combinação de duas ou mais palavras. Ter mãos e olhos de poesia.

Gosta de ler? Qual o seu género literário preferido?

Só consigo escrever porque gosto de ler. Vou percebendo isso com o passar dos anos. Quanto mais leio, melhor escrevo. E os autores que vou lendo mostram-me uma nova estética, a tal que falava há pouco. Tenho preferência em ler romances, no entanto, ainda não tive o atrevimento para me aventurar na escrita de um. Julgo que ainda me faltam muitos livros e muitas palavras para ser capaz de escrever um romance com muita qualidade. E esse medo, chamar-lhe-ei medo, esse de escrever um mau romance, acompanha-me porque cada vez leio mais obras de qualidade extrema. Descobri o José Luís Peixoto há 6 ou 7 anos e percebo que estou muito longe da qualidade dele. Leio Herberto Hélder e compreendo porque há poucos poetas geniais. O Herberto Hélder é tremendo. Percorro a obra completa de Vergílio Ferreira e quero escrever como ele. E encontro recentemente o Valter Hugo Mãe, na sua candidez de escrita e compreendo que não é escritor quem quer. E são estes, para não citar os clássicos, Dostoievski, Tolstoi, Steinbeck, ou os que trago sempre de bolso, Lobo Antunes, Camus, Hemingway. A minha escrita vai sempre depender dos bons livros que vou lendo.

É professor do ensino básico. Para além de escrever gosta de ensinar. O que considera mais gratificante em ser professor?

Ser professor é voltar a ser criança. É entrar novamente nos cheiros de escola, nas pinturas de brincadeiras, no suor do recreio. Ser professor é poder retornar a uma infância que julgamos sempre esquecida. Eu sou professor porque tenho saudades de ser menino. E a gratidão por ter esse privilégio, está no momento em que ensinamos alguém a ler e a escrever, a deter as ferramentas necessárias para que possa iniciar qualquer processo de aprendizagem. Ainda hoje, num momento extremamente comovente, um aluno meu, de 7 anos, chamou-me à parte para me dizer: Bernardo, o meu avô morreu no Domingo. Eu estou triste e quero que guardes esta pena que encontrei na nossa sala, eu quero que o meu avô esteja todos os dias a aprender comigo.
São momentos como este que me fazem crescer e decrescer ao mesmo tempo. Sou o adulto que sofre com eles, porque eles entendem que somos iguais.

Tenta passar aos seus alunos o gosto pela leitura e pela escrita?

Claro que sim, faz parte de mim. É usual nas minhas aulas mascarar-me de algum autor conhecido e passear pela poesia com eles. Recordo uma aula em que me vesti de Fernando Pessoa e em que eles acreditaram mesmo que era o escritor que ali estava a ler-lhes poemas, a construir pequenos textos colectivos. São oportunidades que temos de agarrar para que o estímulo à escrita e à leitura seja algo natural, sem pressas.

Para além do livro e do ensino, escreve no seu blogue “O tempo que resta”. Podemos afirmar que escrever faz parte da sua vida?
  
O blogue tem o nome de “O tempo que resta”, retirado de um filme de François Ozon, que recomendo vivamente.
Sim, escrever faz parte daquilo que quero que seja eterno: as minhas palavras.

Como concilia toda esta sua vida profissional? E com a vida pessoal?

Eu tenho o meu trabalho como treinador, o meu Mestrado que termino este ano. Essas são as prioridades. A escrita aparece sem pressa. Sou novo para escrever. Ainda tenho muito para aprender para que me possa sentir realizado o suficiente em relação ao que escrevo. Por isso, escrevo apenas quando me apetece. Não tento roubar palavras ao vazio. Escrevo apenas quando sei que posso escrever algo que valha verdadeiramente a pena. Daí não haver sequer uma conciliação. Há tempo para tudo, para treinar, ensinar, escrever, passear. Mas talvez pegando no título do meu blogue, talvez a escrita se passeie pelo tempo que resta.

Quais as perspectivas de futuro a nível da escrita? Tenciona escrever mais livros no futuro?

Nunca escrevi para as editoras ou para as massas. Escrevo porque tenho necessidade de encontrar a estética perfeita de escrita. No entanto, esta porta que se abriu, com a edição do meu primeiro livro, traz-me a vontade de sonhar com uma vida de livros escritos. Gosto de dizer que ando a escrever um romance que não faço a mínima ideia de quando vou terminar. Porque o que escrevo hoje, amanhã já não gosto. Mas claro que sim, quero escrever mais e, se por acaso alguém achar que tenho condições para mais livros, saberei o que dizer e fazer: escrevo.

O que pode dizer aos nossos leitores que gostam de ler e de escrever?

Sem ser nenhum padrão do saber, gostaria de citar um texto meu, que por acaso é o primeiro texto do meu blogue. Escrito a 7 de Julho de 2011, com o título de, O retorno eterno:

“As palavras são de novo uma essência que não quero abandonar. Todo eu sou um romance ambulante. A ausência de um verbo transcende a hipoteca de um adjectivo que me classifica. Renasço de um maravilhoso conjunto de textos que me relembram que se pode escrever tão bem na língua portuguesa.
Subo agora o degrau de um conhecimento que adquiri em Dostoievski. Outro maior ainda com Saramago. Saltando como quem anda, por Sartre e Herberto Hélder. Revivo novamente os que me ensinaram a ser e a entender o ser.
Estou quase no cimo de qualquer lugar. Crente como um amante sem cor. Um falso pensador que sabe o seu propósito.
Eu sou um escritor. Quero ser um escritor e tomarei o meu lugar à mesa de quem a fez. Construirei o meu livro imaginário, sem hora, sem tempo.
Julgarei o tempo que resta como o que nunca terminará e serei o que sempre fui: a palavra.
Quem o livro abrir, saberá do que explico. Um regresso é tremendo quando nunca surge. Eu quero ser tremendo como um poema. Falarei com a velocidade do pensamento e todas as palavras voarão pela brevidade que me detém.”

Obrigada Bernardo Tomé.

2 comentários:

  1. Um grande e sincero obrigado por ter despendido tempo no meu livro e na minha pessoa. Muito, muito obrigado!

    ResponderEliminar
  2. Obrigada nós por nos conceder esta entrevista. Tudo de bom,e sucesso com o seu livro

    ResponderEliminar