"Alexandria, rocio do alvorecer, penugem de nuvens alvas, atravessada por raios embebidos de água do céu, coração das lembranças banhadas de mel e lágrimas."
"É a primeira vez que a vejo decepcionada, destroçada: o seu rosto trigueiro está pálido, os seus olhos cor de mel perderam o seu encanto e o seu fulgor. Serviu-me uma chávena de chá e encaminhou-se para a porta. Pedi-lhe que não fosse. O vento soprava por intervalos e a atmosfera sombria do quarto revelava que as nuvens se iam acumulando."
Alguns dos leitores mais assiduos já deve ter percebido que não sou muito dada à leitura de livros premiados com o Nobel. Geralmente são livros que considero com uma escrita que exige demasiado de mim, deixando de ser uma leitura prazenteira, passando a ser uma leitura dificil, pelo que não aprecio o livro.
Com este livro, inicialmente, ocorreu o mesmo. Talvez seja por eu , à partida, já ter esta ideia estereotipada contra livros premiados. No entanto, e após algumas páginas, a leitura começou a tornar-se mais fácil, devido a ter bastante diálogo, o que me facilita a leitura quando a escrita é mais densa.
Naguib Mahfouz conta-nos a história de seis personagens, habitantes da pensão Miramar na Alexandria dos anos 60. Cada capitulo tem como titulo o nome de uma personagem, sendo assim falado na primeira pessoa. Devido a esta divisão acabamos por ter a percepção de como uma mesma situação pode ser vivida e percebida de modo diferente, consoante quem a está a avaliar.
Todos os acontecimentos ocorrem á volta de Zohra, uma fallaha (camponesa). É através das relações que todos os personagens criam com a camponesa que o livro nos dá uma perspectiva da realidade politica e social da época. Consegue, através dos actos e dos pensamentos de cada um, compreender o modo como a população vivia e quais os valores emergentes na altura.
O livro não me cativou, mas consegui ler até ao fim, o que considero bastante positivo. Tenho, no entanto, noção de que terá muitos "ingredientes" para ser um grande livro, apreciado por muitos leitores.
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